Logo que surgiu, em 2012, a DarkSide Books, editora de livros de terror e fantasia, atraía um público eminentemente masculino – hoje, são as mulheres as mais interessadas nas obras de acabamento esmerado e assuntos sombrios. Fundada pelos designers Christiano Menezes e Chico de Assis, e pelo escritor Marcel Souto Maior, a editora já trilha um caminho seguro que permitiu a seus editores colocar em prática um sonho antigo: fundar outra casa editorial, agora com a missão de compartilhar ideias e propor reflexões aos leitores, a fim de provocar novas visões de mundo.

Surge agora a Somos Livros, editora planejada há quatro anos com a intenção de ser inspiradora. “A Somos representa o lado solar, que não é cotejado pela DarkSide”, comenta Menezes, que, como os demais editores, não pretende enfileirar lançamentos para marcar posição – a ideia é criar ciclos com uma nova quantidade de livros e cuja alternância pode variar até seis meses entre um ciclo e outro. “Não há pressa, mas sim o interesse em escolher os títulos que melhor atendam às necessidades humanas no momento.” E, ao contrário da DarkSide, a nova editora pretende construir um catálogo com pelo menos 80% de títulos de não ficção, apostando especialmente em obras de filosofia.

Basta dar uma espiada na primeira leva, formada principalmente por livros que ajudam a entender o estoicismo, prática filosófica que prega que, para se ter uma vida feliz, é preciso aceitar os tropeços. Não à toa, o adjetivo “estoico” passou a ser usado para se destacar um ato de bravura em um momento complicado – algo comum durante a pandemia.

Um dos livros da primeira fornada da Somos, portanto, é O Pequeno Manual Estoico, de Jonas Salzgerber, um guia prático com respostas objetivas para perguntas que eternamente rodeiam os homens, como onde mora a felicidade? Ou como enfrentar nossos medos? A praticidade conduz o manual.

Mas, para as pessoas que buscam um aprofundamento no tema, a indicação é Ser Estoico: Eterno Aprendiz, em que Ward Farnsworth enumera os grandes pensadores estoicos, a começar pelo filósofo cipriota Zenão (333 a.C.-264 a.C.), que fundou em Atenas uma escola de filosofia cujos fundamentos foram a base para o estoicismo. Organizado em doze lições, o livro fala sobre vida, morte, adversidades, virtudes e a conquista da felicidade.

A Somos lança ainda Luto Sem Medo, livro que marcou a estreia literária do inglês Max Porter. Em tom de fábula e com uma bela linguagem poética, a obra mostra como a visita de um pássaro transforma a vida de uma família que sofre pela perda da mãe. Editor da revista Granta, Porter escreveu ainda Lanny, romance satírico em que, entre outras coisas, manifesta sua repugnância pelo pintor Renoir.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Outra grande aposta é A Casa Amarela, livro de estreia da americana Sarah M. (de Monique) Broom, publicado em 2019 e colecionador de elogios da imprensa estrangeira, notadamente The New York Times, Washington Post e o inglês The Guardian. Trata-se de uma obra memorialística, em que Sarah relembra sua criação em um bairro negligenciado de Nova Orleans, onde vivia em uma casa com onze irmãos – não bastassem a desigualdade e a pobreza, o local foi ainda atingido pelo furacão Katrina, em 2005.

Além da história familiar, Sarah (hoje casada com a cineasta Dee Ress) trata de assuntos delicados como classe, cor, desigualdade e a vergonha internalizada de cada morador.

A Somos, cujo nome faz referência à importância do aprendizado coletivo, vai lançar também Amanhã Hoje É Ontem, em que a jornalista Daniella Zupo relata as profundas mudanças em sua vida quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Na lista ainda, TAB: Transtorno Afetivo Bipolar, da psiquiatra e pesquisadora Kay Redfield, que conta como lidou com a descoberta do quadro de transtorno maníaco-depressivo ou bipolaridade em sua própria vida.

A lista do primeiro ciclo de lançamentos se completa com Luz no Caminho, clássico da filosofia esotérica oriental publicado em 1880 e que chega aqui com a tradução feita por Fernando Pessoa em 1921. Como diz o material de divulgação, um livro que instiga a comunhão interior e a manifestação intuitiva plena de nossa consciência.

A intenção na escolha dos títulos, segundo Menezes, foi a de que a leitura de uma obra complemente a de outra. “Queremos alimentar o eterno questionamento e não evocar a antiga normalidade”, diz. “Essa pode ser a nossa chance de não flertarmos mais com a indiferença.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias