Há pouco mais de um ano, Felipe Santiago Calestini, de 30 anos, deixou o serviço de borracheiro para trabalhar na área de tecnologia do C6 Bank. Como analista de sistemas, ele teve de adaptar sua rotina ao turno da madrugada, algo que introduziu um novo hábito no seu dia a dia.
Com menos tempo para cozinhar ou se deslocar até os estabelecimentos físicos, acabou virando um cliente assíduo dos aplicativos de entrega. “Antes da pandemia, dificilmente eu pedia comida em delivery. Estava acostumado a sair do trabalho e passar para pegar um lanche ou uma pizza. Agora, seja por ‘preguiça’ ou por comodidade, acabo comprando tudo pelo celular”, conta.
Foi durante a pandemia de covid-19 que os serviços de delivery usados atualmente por Calestini se consolidaram no dia a dia de milhares de brasileiros. O período de distanciamento social fez com que pessoas que nunca tinham usado a internet para fazer compras se rendessem aos pedidos virtuais.
Depois de facilitar o consumo ao longo do dia, os aplicativos agora estão se tornando uma opção para os clientes mais notívagos que preferem comprar na madrugada sem que tenham de se deslocar até lojas de conveniência, mercados ou adegas que funcionam 24 horas e que vivem uma certa decadência.
Na esteira do consumo da madrugada, aplicativos de entrega como Rappi, Ifood e Zé Delivery começaram a receber novos estabelecimentos que atendem até tarde da noite. E se na pré-pandemia o consumo por meio de entregas estava restrito a lanches e pizzas, ele agora abarca de bebidas alcoólicas a itens de farmácia, de chinelos a joias, tudo ao alcance da palma da mão.
Comportamento
Na avaliação de Ulysses Reis, especialista em varejo virtual da Strong Business School (SBS), a adesão de novos negócios aos aplicativos, principalmente os que atendem fora dos horários convencionais, ocorre por causa de uma mudança no comportamento dos consumidores no País, evidenciado durante a pandemia.
Reis afirma que o avanço do trabalho remoto ajuda a introduzir uma nova massa de consumidores ao delivery fora do horário comercial. “Agora, as pessoas podem trabalhar onde quiserem e a qualquer momento, o que impulsiona o consumo em horários alternativos, como a madrugada.”
O especialista em varejo e fundador da Varese Retail, Alberto Serrentino, também vê uma consolidação desses novos perfis de consumo via aplicativos durante as madrugadas.
Ele destaca que os pedidos noturnos, majoritariamente, têm como base a ideia de consumo imediato ou de urgência. “É claro que sair da pandemia devolve várias missões de compras para as lojas físicas, mas os hábitos enraizados neste período ficam por causa da praticidade, rapidez para itens emergenciais, ou o consumo via Whatsapp”, avalia.
Outro fator que tem alavancado os pedidos noturnos é o crescimento da violência e criminalidade nas grandes cidades. “A pandemia ensinou as pessoas a consumir em casa, que é mais prático e mais seguro,” diz o professor da SBS.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.