E dnaldo é motorista, casado com Jucinara, doméstica. O casal tem três filhos: Claudinei, mecânico, Claudson, garçom, e Claudomiro, pedreiro, eletricista e encanador.

Os cinco estão desempregados há mais de dois anos. Um por um, foram perdendo os empregos na época da Dilma ou de Temer.

Não se lembram bem qual era o presidente. Nenhum deles dá bola para política.

Jucinara sabe que desemprego não se resolve com político. É evangélica. Para ela, desemprego se resolve mesmo é orando.
O marido já pediu para a mulher não dar dinheiro para o pastor. Mas ela dá sem ele saber.

Ednaldo sabe que desemprego não se resolve com político nem com pastor. Emprego vem para quem procura. Tem que correr atrás.

Jucinara acha o Moro bonito. Os filhos acham que a mãe deveria gostar dele por lutar para acabar com a corrupção. Eles sabem que desemprego não se resolve com políticos antigos.

Os cinco votaram em Lula e Dilma, mas ficaram muito desconfiados do PT depois que souberam que são corruptos e comunistas.

Cada um por sua conta decidiu votar em Bolsonaro. PT nunca mais.

Jucinara votou em quem o pastor mandou.

Para Ednaldo, Lula nunca o enganou, apesar de ter votado nele duas vezes.

Já os filhos apostaram em novas ideias.

Todos votaram em Bolsonaro, que é humilde e nunca roubou. Ele garantiu que quando não soubesse de um assunto, escolheria ministros que sabem. Como o Moro, por exemplo. Paulo Guedes eles não sabem quem é.

Quando Bolsonaro foi esfaqueado, Jucinara ficou 48 horas orando.

Em julho do ano passado, muito antes da eleição, o quinteto já estava numa situação desesperadora.

Hoje, quatro meses depois do presidente ter assumido, vivem da ajuda de vizinhos, de favores ou de bicos que aparecem.

Eles continuam procurando emprego, mas o dinheiro é tão escasso que apenas um pode comprar passagem de ônibus a cada dia. Então se revezam durante a semana.

Não contam, mas quando tomam o ônibus não sabem bem para onde ir nem quem procurar. Caminham pelo Centro, deixando o tempo passar antes de voltar para casa.

Os jornais, semana passada, anunciaram que durante o mês de março mais de 40 mil vagas de emprego formal foram perdidas. Anunciaram também que a indústria estagnou. E que o endividamento das famílias voltou ao índice de 2016, com 43% do orçamento familiar comprometido com dívidas.

Esses mesmos jornais, que no passado contaram sobre a ascensão da classe C e mostraram a classe B reclamando que os aeroportos pareciam rodoviárias, hoje anunciam que cerca de um milhão de brasileiros estão sendo empurrados para as classes D e E.

Mesmo quem não liga para política ou não entende direito como funciona a economia consegue entender que essas não são notícias boas.

Estava tudo ali, na capa dos jornais pendurados nas bancas do Centro, no dia em que Ednaldo estava esperando o tempo passar.

Ele já está acostumado com os jornais e suas notícias complicadas de política e economia. Sabe que não foram escritas para ele nem para a sua família.

ão notícias de um outro país. De outra gente. Sempre foi assim. Notícias de uma guerra para a qual nem ele nem sua família foram convocados.

Voltando para casa, Ednaldo viu o templo lotado de gente pela janela do ônibus.

Jucinara deveria estar lá dentro, mais uma vez dando seu pouco dinheitinho para o pastor em troca da promessa de emprego.
Tomara que dessa vez funcione.

A família só quer empregos para levar a vida com alguma dignidade. Nas bancas do Centro, os jornais falam de outras gentes, de um outro país. A única esperança vem do templo, onde Jucinara dá algum dinheirinho para o pastor, contrariando Ednaldo