Quando foi inaugurado, em 1933, o teatro do Cassino da Urca não chamava muita atenção. Aproveitando a liberação do então presidente Getúlio Vargas (1882-1954) para funcionamento de jogos de azar em casas que tivessem também atrações artísticas, o proprietário, Joaquim Rolla, improvisou um espaço para apresentações no hall de entrada. A estrutura era amadora, o glamour era zero. Foram necessários três anos de trabalho do cenógrafo Luiz de Barros para que aquele teatro se eternizasse como um dos mais emblemáticos da história da música brasileira e desse início a uma era de ouro, com direito a Carmen Miranda se apresentando em um amplo palco. A casa fechou em 1946, quando os jogos de azar foram novamente proibidos.


Mais de meio século depois, o prédio foi cedido ao Istituto Europeo di Design (IED) em troca da revitalização do espaço, que estava abandonado. E, em outubro, será a vez de o famoso teatro ser reformado. “Vamos recuperar partes importantes, como o mezzanino e as escadas. A ideia é ter um auditório com teatro, música, dança e seminários que conserve a memória histórica e seja contemporâneo e flexível”, afirma Fabio Palma, diretor do IED-Rio.

11
Bruno Poppe

A construção, símbolo do bairro, aos pés do Morro da Urca, foi erguida em 1927. Quase centenário, o espaço foi cedido ao IED em uma concessão por 25 anos. O projeto foi aprovado em 2007 e uma parte do cassino, que dá para a praia, já foi reformada – funciona desde 2014 como unidade carioca do centro de estudos, que tem sede na Itália. Do outro lado da passarela estão as ruínas, incluindo as do teatro, que serão reparadas na nova etapa do processo. “Vejo de modo positivo essa utilização do espaço público. Mas a maneira como será usado deve ser discutida amplamente, inclusive com a população”, afirma Cristiane Simões Netto Costa, que analisou a revitalização do Cassino da Urca em sua dissertação de mestrado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). No início da reforma, parte da população do bairro era contrária à implementação do centro, alegando que o fluxo de pessoas aumentaria e a área não teria estrutura para receber tanta gente, entre alunos e visitantes.

Fabio Palma, diretor do IED-Rio, que está a frente do projeto de reestruturação
Fabio Palma, diretor do IED-Rio, que está a frente do projeto de reestruturação (Crédito:Bruno Poppe)

Centro cultural

O espaço, que também funcionou como estúdio da TV Tupi entre 1951 e 1980, é aberto ao público para visitação e também funciona como centro cultural gratuito. Em 2016, o ator Renato Borghi encenou a peça “Fim de Jogo”, de Samuel Beckett, em meio aos escombros do teatro. O local ainda recebe exposições de diferentes temas. Entre as próximas atrações, está agendada para setembro a mostra “Praia”, de arte contemporânea, com curadoria de Paula Alzugaray. “A ideia é aumentar nosso compromisso com a cidade e proporcionar uma oferta cultural na Urca, compatível com o tamanho do lugar, mas aberta à população”, diz o diretor Fabio Palma.

A volta do Hippo

16
Divulgação

Na mesma pista de dança em que Renata Sorrah, na pele de Heleninha Roittman em “Vale Tudo”, pediu um “mambo caliente” ao DJ, Myrian Rios comemorou seus 26 anos ao lado de Roberto Carlos, o piloto Niki Lauda dançou descalço porque não era permitido entrar de tênis, Prince tentou cortejar Maitê Proença e Luma de Oliveira comemorou sua primeira capa da “Playboy”, em 1987. Tudo isso aconteceu em uma das casas noturnas mais icônicas do País, a Hippopotamus, ou Hippo, no Rio de Janeiro, que está prestes a reabrir, em Ipanema, por iniciativa do antigo dono, o rei da noite Ricardo Amaral. Badaladíssima entre 1977 e 2001, virou ícone de uma época com a novela “Dancin’ Days” (1978), que também teve cenas gravadas por lá. A casa está na iminência de reabrir já há algum tempo – a última data divulgada foi 10 de maio. Mas o martelo não foi batido. A boate terá uma estrutura parecida com sua primeira versão, contando com um restaurante e com o chef Claude Lapeyre, o mesmo de antigamente, assinando o menu.