Diante da agressividade de Jair Bolsonaro em relação à imprensa, esperam-se atitudes mais enérgicas que legitimem os parlamentares Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre em suas funções como presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. A cada investida de Bolsonaro contra jornalistas e a mídia em geral, o que se ouvem de ambos são somente declarações protocolares. A democracia está em jogo, e Jair Messias Bolsonaro dá as cartas no sentido mais batido do populismo que visa a chegar à plenitude de regimes totalitários e de exceção.

Bolsonaro ameaça, por enquanto, a mídia voltada às coberturas políticas. É assim que começa. O próximo passo será o de jogar a população menos informada contra todos os setores da imprensa: em quaisquer eventos (esportivos e culturais, por exemplo), ele quer ver agredidos por parte do público os profissionais que fazem a cobertura. Chegando-se a tal patamar, aí sim a mesa estará fartamente posta para o totalitarismo. É preciso que Maia e Alcolumbre se revoltem de verdade em suas questões de princípios, e não apenas administrativamente, contra quem atropela a democracia e o Estado de Direito. Os presidentes das duas Casas legislativas são mandatários e integrantes do poder constituinte originário, tendo eles, portanto, a prerrogativa de zelar pelo texto constitucional — que em seu Título II, abordando as “garantias fundamentais”, assegura a liberdade de expressão. Faz-se urgente que Alcolumbre e Maia tomem medidas legais sérias e providências frutíferas — é dever de ofício. Saudade, muita saudade, de alguém com a alma democrática e republicana como o foi o deputado Ulysses Guimarães — o doutor Ulysses que nos ensinou que a “Constituição pode ser debatida, mas afrontada jamais”. O Poder Executivo afronta-a diuturnamente. Vale lembrar no Brasil político de hoje os balizamentos de Thomas Jefferson e François Marie Arouet sobre a liberdade de imprensa. E, finalmente, está na hora de a sociedade civil, como um todo, lembrar do poema “No caminho com Maiakovski”, escrito por um grande poeta brasileiro: Eduardo Alves da Costa.

É mister lê-lo, recortá-lo e o colá-lo na memória. O poema afirma como é importante reagir o quanto antes a atitudes ditatoriais como as de Bolsonaro:

Na primeira noite  eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada.
Na segunda noite,  já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão,e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em  nossa casa, rouba-nos a luz  e, conhecendo
nosso medo, arranca-nos a  voz da garganta. E já não podemos  dizer nada.


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