Na Química e na Física, qualquer sistema tende ao equilíbrio.

Chamam a isso Entropia.

Ensinam isso na escola. Ou deveriam.

A proximidade de um objeto quente ao lado de outro objeto frio culminará a uma temperatura média comum.

Conecte dois tubos com volumes diferentes de um mesmo líquido e em poucos segundos estarão ambos nivelados.

Inteligentes esses cientistas.

Estudam as sutilezas dos sistemas para entender como funciona o Universo.

Partidos são elementos de um sistema político e, ao menos em tese, deveriam respeitar a tal lei da entropia.

Partidos são moléculas criadas para unir políticos, os átomos desse sistema, que tenham alguma semelhança em suas formas de pensar.

Você não vai achar um Republicano, nos EUA, que lute pela legalização da maconha.

Ou um democrata contrário ao aborto.

Junte num tubo de ensaio partidário um monte de políticos diferentes e, em breve, deveriam restar apenas aqueles que se identificam com os posicionamentos daquela legenda.

Uma espécie de entropia política, que permitirá ao eleitor definir qual sigla mais se aproxima de seus posicionamentos.

Ocorre que a educação do brasileiro mediano não inclui um profundo conhecimento de Química, Física ou Política.

Prova disso é que, eleição após eleição, seguimos escolhendo personagens medíocres para nos representar, seja no Executivo, seja no Legislativo.

Pior que isso, um mesmo eleitor pode votar em Bolsonaro e num deputado petista, sem nenhuma preocupação com o equilíbrio de sua consciência.

Vai ver por isso o impeachment é constantemente cogitado ou colocado em prática.

Sem entender porque ou em quem votar, o eleitor médio brasileiro considera o impeachment uma probabilidade e não uma possibilidade.

Votamos já seguros que, se não der certo, numa espécie de parlamentarismo improvisado, derrubamos o cidadão.

Mas a Química de nosso sistema democrático não é caótica apenas por conta dos eleitores.

Nossa tabela periódica de políticos, também não trabalha para nos auxiliar a melhorar a qualidade das equações eleitorais.
Analise as posições políticas de cada átomo de um partido e é bem provável que você encontre o caos.

Numa mesma molécula, PT, PSDB, PSOL, NOVO, quem se interessa pelo assunto rapidamente identifica a ausência entropia interna de cada um desses sistemas.

Sabedores da ignorância de nossos eleitores na política e na Química, os caciques de cada partido apostam não em ideologias, mas em vitórias momentâneas.

Se o experimento da vez é a paulista cheia de reacionários, deputados do Novo votam com o governo.

A tabela periódica de políticos não trabalha para nos auxiliar a melhorar a qualidade das equações eleitorais

Se o povo deixa de ir às ruas apoiando um genocida, PSDB esquece o “SD” de sua sigla e mergulha na direita mais radical.

Moléculas em nenhuma característica em comum, não é à toa que Bolsonaro convenceu boa parte de seus eleitores que o PT é um partido comunista.

Entropia política, por aqui, não existe.

E a Química de Brasília torna-se instável, constantemente em ponto de ebulição.

Quanto mais se fala de impeachment, menos existe a possibilidade.

Quanto mais se critica o presidente, mais ele ganha apoio de quem deveria criticá-lo.

É o caos derrotando o equilíbrio.

Todos esperando o que vai acontecer no próximo ciclo de ações para observar o comportamento do eleitor e, assim, decidir qual será a reação.

Estamos, hoje, a um ano das eleições, imersos em um sistema onde cada partícula política pode ocupar infinitas posições no mesmo momento, difícil de observar e prever os resultados de cada uma das combinações possíveis.

Como na Física, nossa democracia é quântica.