A uma curta distância da Faixa de Gaza, centenas de colonos israelenses marcharam nesta quarta-feira (30) para reivindicar seu direito àquele território, devastado por quase 22 meses de conflito entre Israel e Hamas.
+ Espanha receberá 13 menores doentes de Gaza para que recebam tratamento
Agitando bandeiras de Israel e de Gush Katif, um conjunto de colônias desmanteladas em 2005, os manifestantes marcharam do povoado de Sderot até o ponto de observação de Asaf Siboni, que domina as ruínas de Beit Hanun.
Há 20 anos, a retirada israelense da Faixa de Gaza encerrou 38 anos de presença militar. Cerca de 8.000 colonos foram evacuados, e 21 comunidades, demolidas. Um pequeno grupo, no entanto, nunca desistiu do sonho de retornar.
Em meio ao conflito de Israel com o movimento islamista palestino e com os setores de linha-dura do governo, alguns acreditam que chegou a hora de fazê-lo. Aos veteranos de Gush Katif, somou-se uma nova geração de possíveis colonos prontos para entrar na Faixa de Gaza, se o Exército assim permitir.
“Como movimento, as mil famílias que você vê marchando hoje estão prontas para entrar já e viver em barracas”, afirmou Daniella Weiss, 79, ex-prefeita do assentamento de Kedumim, na Cisjordânia. “Estamos prontos, com nossos filhos, para entrar imediatamente em Gaza, porque acreditamos que essa é a forma de trazer tranquilidade, paz, de acabar com o Hamas“, disse à AFP.
Grupos de extrema direita se juntaram ao protesto e marcharam até a fronteira aos gritos de “Gaza, nossa para sempre!”, enquanto alto-falantes proclamavam: “A forma de derrotar o Hamas é retomando a nossa terra!”
Deus e governo
Grande parte da Faixa de Gaza foi destruída pela ofensiva israelense lançada em resposta aos ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023, que deixaram 1.200 mortos.
Desde então, mais de 60.000 palestinos morreram no conflito, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas. ONGs internacionais acusaram Israel de deslocar civis à força e de cometer crimes de guerra.
A política oficial do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é de que a operação na Faixa de Gaza foi lançada para destruir o Hamas e resgatar os reféns israelenses, e não para restabelecer os assentamentos.
Mas os possíveis colonos dizem que conversaram com membros de linha-dura da coalizão de governo e que acreditam que pode haver uma abertura política, embora a reocupação seja considerada ilegal pelo direito internacional.
Os colonos ficaram ainda mais confiantes quando o ministro israelense das Finanças, Bezalel Smotrich, declarou em discurso recente: “Não sacrificamos tudo isto para transferir Gaza de um árabe para outro. Gaza é parte inseparável da terra de Israel.”
“Tenho fé em Deus e no governo”, disse Sharon Emouna, 58, que viajou do seu assentamento na Cisjordânia ocupada para apoiar o movimento de retorno à Faixa de Gaza.
“Estou aqui apenas para apoiar, para dizer que a terra de Israel foi prometida ao povo judeu e que temos o direito de nos estabelecer ali.”
Sharon ressaltou que, caso algum palestino deseje permanecer na Faixa de Gaza, ele vai se beneficiar do convívio com os colonos. Hoje, no entanto, soldados israelenses bloquearam o último trecho da caminhada até o território palestino.
Várias famílias se aproximaram da fronteira o suficiente para conseguir ver as silhuetas apocalípticas das casas palestinas destruídas pelos combates e, talvez, o que esperam que volte a ser o seu lar.