Coluna: Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.

Nossa opção pela violência

Os recentes casos de violência, agora contra crianças, ocorridos nas escolas brasileiras nos últimos anos, parecem indicar um novo traço na cultura de morte que permeia o Brasil. Em pouco mais de três anos, foram doze ataques com vítimas fatais. O Brasil é um dos países mais violentos do mundo. Por aqui, mata-se mais de 50 mil pessoas por ano, todos os anos. Brigamos e nos matamos nas ruas, nos estádios, nos lares. Espancamos torcedores rivais, travestis e mulheres. Homofobia, feminicídio e racismo são barbáries que já fazem parte do nosso cotidiano há décadas. Nas últimas eleições, “evoluímos” para assassinatos políticos, com bolsonaristas matando apoiadores do presidente Lula.

Não sei se o extermínio de indígenas, o passado escravagista ou a desigualdade social que segrega os pobres em espécies de guetos modernos, abandonados pelo Estado, entregues à própria sorte e às milícias armadas, mas o País nasceu e cresceu sob o signo da violência. Agora, uma nova variante de crime contra a vida surge com tremenda força e crueldade, pois direcionada às crianças. Não poderia pensar em um local mais seguro para um filho que uma escola, hoje transformada em risco e fonte de angústia e medo para os pais. O quadro agravou-se sobremaneira a partir de ameaças espalhadas em redes sociais. O clima de medo e terror tomou conta das famílias e, ao que tudo indica, esse fenômeno tende a piorar, infelizmente. O governo federal anunciou um pacote de medidas, incluindo ajuda financeira destinada à segurança dos pequenos, mas sinto informar que será inócuo, como enxugar gelo, ainda que algo precise ser feito como resposta à população.

Os EUA investem fortunas em equipamentos de segurança e policiamento ostensivo nas escolas, mas não conseguem se livrar da chaga dos tiroteios

Os Estados Unidos investem fortunas em equipamentos de segurança e policiamento ostensivo nas escolas, mas ainda assim não conseguem se livrar da chaga dos tiroteios – também um traço cultural dos norte-americanos. Sim, violência faz parte da cultura de um povo. Por lá, diferentemente daqui, há rápida apuração dos crimes e severas penas, inclusive de morte, a depender do estado. Mesmo assim os ataques não cessam, principalmente aqueles cometidos por armas de fogo de grosso calibre, vendidas como se fossem pão em qualquer padaria da esquina. O motivo do meu pessimismo é simples. Se não temos nem apuração nem punição, por mais que se invista em algum tipo de segurança, como poderia produzir efeito tal medida? Como estancar a escalada de violência – que já não é mais inédita – e evitar que também nossos pequenos tombem como moscas?