20/04/2023 - 9:30
Os recentes casos de violência, agora contra crianças, ocorridos nas escolas brasileiras nos últimos anos, parecem indicar um novo traço na cultura de morte que permeia o Brasil. Em pouco mais de três anos, foram doze ataques com vítimas fatais. O Brasil é um dos países mais violentos do mundo. Por aqui, mata-se mais de 50 mil pessoas por ano, todos os anos. Brigamos e nos matamos nas ruas, nos estádios, nos lares. Espancamos torcedores rivais, travestis e mulheres. Homofobia, feminicídio e racismo são barbáries que já fazem parte do nosso cotidiano há décadas. Nas últimas eleições, “evoluímos” para assassinatos políticos, com bolsonaristas matando apoiadores do presidente Lula.
Não sei se o extermínio de indígenas, o passado escravagista ou a desigualdade social que segrega os pobres em espécies de guetos modernos, abandonados pelo Estado, entregues à própria sorte e às milícias armadas, mas o País nasceu e cresceu sob o signo da violência. Agora, uma nova variante de crime contra a vida surge com tremenda força e crueldade, pois direcionada às crianças. Não poderia pensar em um local mais seguro para um filho que uma escola, hoje transformada em risco e fonte de angústia e medo para os pais. O quadro agravou-se sobremaneira a partir de ameaças espalhadas em redes sociais. O clima de medo e terror tomou conta das famílias e, ao que tudo indica, esse fenômeno tende a piorar, infelizmente. O governo federal anunciou um pacote de medidas, incluindo ajuda financeira destinada à segurança dos pequenos, mas sinto informar que será inócuo, como enxugar gelo, ainda que algo precise ser feito como resposta à população.
Os EUA investem fortunas em equipamentos de segurança e policiamento ostensivo nas escolas, mas não conseguem se livrar da chaga dos tiroteios
Os Estados Unidos investem fortunas em equipamentos de segurança e policiamento ostensivo nas escolas, mas ainda assim não conseguem se livrar da chaga dos tiroteios – também um traço cultural dos norte-americanos. Sim, violência faz parte da cultura de um povo. Por lá, diferentemente daqui, há rápida apuração dos crimes e severas penas, inclusive de morte, a depender do estado. Mesmo assim os ataques não cessam, principalmente aqueles cometidos por armas de fogo de grosso calibre, vendidas como se fossem pão em qualquer padaria da esquina. O motivo do meu pessimismo é simples. Se não temos nem apuração nem punição, por mais que se invista em algum tipo de segurança, como poderia produzir efeito tal medida? Como estancar a escalada de violência – que já não é mais inédita – e evitar que também nossos pequenos tombem como moscas?