Em pleno século XXI, com uma renda anual por habitante inferior à do Mississipi, o estado mais pobre dos Estados Unidos, o Brasil permanece com os pés estacados na mais abjeta miséria. Entre nossos concidadãos, só os muito obtusos aceitam tal situação sem se indagar sobre suas causas. Até poucas décadas atrás – ou deverei dizer “até poucos anos atrás”? – mesmo os mais letrados membros da elite julgavam haver descoberto a pedra filosofal. Éramos atrasados – diziam – porque fomos descobertos e colonizados por Portugal, um país atrasado. A metrópole moldou a colônia para produzir o que podia com base na escravidão e na monocultura. E, convenhamos, como contestar isso? Nos séculos XVI e XVII, quem aqui arribasse somente se impressionaria com os canaviais do Nordeste, que praticamente monopolizavam o açúcar que o mundo demandava. Expulsos para a América Central, os holandeses, muito mais competentes e capitalizados quebraram aquele monopólio como quem quebra um ovo, e ali teve início nossa longa descida aos infernos.

O ouro e os diamantes de Minas Gerais salvaram mais a Portugal e aos contrabandistas do que a nós, mas pelo menos nos deixou as maravilhas do barroco e uma sociedade urbana, relativamente culta e muito mais diversificada. Esgotadas as riquezas minerais, lançamos as bases de uma pecuária que levou mais de cem anos para alcançar um nível respeitável. Mas e o século XIX? Foi-se o açúcar, foi-se o ouro, mas chegou o café, e outra vez atingimos um quase-monopólio mundial. O café permitiu a passagem ao trabalho assalariado e deixou recursos favoráveis a uma futura industrialização. Só que a superprodução liquidou também o café e os altivos cafeicultores da época que logo se aninharam nos braços do Estado.

O ouro e o diamante de Minas Gerais salvaram mais a Portugal e aos contrabandistas do que a nós, mas nos deixaram as maravilhas do barroco e de uma sociedade relativamente culta

O jeito, então, era industrializar a qualquer preço, e aqui ficou patente que, de fato, não enxergávamos direito. Industrializar, sim, mas o que fizemos foi tentar essa proeza sem formar uma base adequada no trabalho, sem educação básica, sem ciência e tecnologia, sem pequenas e médias empresas no campo e nas cidades. Recorremos à mão-de-obra miserável que vinha do Nordeste, usamos a tributação para transferir recursos para as oligarquias incrustadas no casco do Estado, e nos valemos sem rebuços da inflação. Mercado, empreendedorismo privado, diversificação, nem pensar. Não por acaso, logo batemos no teto. O teto é onde estamos, do qual tão cedo não sairemos.