Em 1919 – há quase 100 anos -, surgiu na Alemanha derrotada na Primeira Grande Guerra o movimento chamado de expressionismo. Luz, sombra e deformações visuais caracterizavam O Gabinete do Dr. Caligari, de Robert Wiene. Casas e ruas fora de prumo e, nesse ambiente caótico, como o próprio mundo, o sinistro Dr. Caligari e seu servo zumbificado, Cesare, semeiam o terror. Mais três anos e, em 1922, de novo na Alemanha e mais uma vez no marco do expressionismo, surgiu um dos maiores filmes do cinema.

F.W. Murnau queria adaptar Drácula, mas não possuía os direitos do livro de Bram Stoker. Seguiu em frente com o projeto, apenas trocando o nome do seu sugador de sangue – Nosferatu. Na trama, um corretor é chamado ao castelo do Conde Orlok. Ao chegar ao local, ele se surpreende com o terror que a simples menção ao nome Orlok provoca nas pessoas. O conde tenta destruir o corretor, mas seu objeto de desejo é a mulher dele. Ellen é seu nome e ao atraí-lo para a luz ela conseguirá acabar com uma maldição secular.

Nosferatu terá sessões com música ao vivo nos dias 12, 13 e 14, no Instituto Moreira Salles, na Avenida Paulista, às 20h30. Um grupo de nove músicos vai executar a partitura original, reconstituída pelo pianista Hans Brandner e pelo regente Marcelo Falcão. Você vai ver como o filme fica ainda mais impressionante. Muito já se escreveu sobre o filme e seu ator, o mítico Max Shreck. O sobrenome significa ‘medo’ e a maneira como Max encarna o personagem é até hoje motivo de especulação. É notório o caso de Falconetti, que enlouqueceu ao vivenciar a tragédia de Joana D’Arc no clássico de Carl Theopdor Dreyer, de 1925.

Com Max Shreck ocorreu algo similar. Nosferatu rasteja como um rato por seu castelo, projetando sombras ameaçadoras enquanto persegue Hutter, o corretor. A menção a ‘rato’ não é fortuita. Ele comanda os roedores, que invadem a cidade. Ergue-se rijo do seu caixão. Dissolve-se sob o efeito da luz. É a própria essência do expressionismo. A história de Nosferatu – o conflito entre luz e trevas – é transposta para o cinema por meio de uma estética inteiramente fundada na interação entre luz e sombra.

Drácula virou um personagem icônico no inconsciente coletivo. Inspirou toda uma série na empresa britânica Hamer, nos anos 1950, e a suntuosa ópera de Francis Ford Coppola nos anos 1990. Nosferatu, especificamente, teve remake de Werner Herzog, com Klaus Kinski tão marcante como Max Shreck no papel. Tão forte como o medo, há uma dimensão psicanalítica no mito do vampiro. O ato de sugar o sangue – “Sua mulher tem um belo pescoço”, diz Orlok a Hutter – tem tudo a ver com sexo.

Para ritmar os movimentos na tela, a trilha utiliza os intrumentos violino, viola, violoncelo, fagote, flauta, clarinete, trompete, percussão e órgão. Será a primeira vez que a trilha original será executada ao vivo no País. A venda antecipada foi um sucesso. Os poucos ingressos remanescentes serão vendidos na bilheteria do IMS, no dia de cada apresentação, a partir das 10 h.

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