14/10/2022 - 9:30
Que tal explorar a antiga Rota da Seda ou o trajeto original do lendário Orient-Express? Ou ainda atravessar um continente de costa a costa, no conforto de uma cabine de primeira classe?
Percorrer as regiões mais remotas do mundo em luxuosos trens virou moda entre os viajantes de altíssimo poder aquisitivo. Com aeroportos lotados, o sucesso dos cruzeiros ferroviários, principalmente na Europa, é inegável.
Ao contrário dos trens de alta velocidade, que focam apenas no destino, o renascimento dos vagões de alto padrão tem apenas um objetivo: um trajeto espetacular, em todos os sentidos. Os vagões, em sua maioria centenários, foram salvos da sucata e reformados para oferecer o conforto de um hotel cinco estrelas: decoração de ponta, atendimento impecável e oferta gastronômica digna dos melhores restaurantes do planeta.
Para Malu Albertotti, especialista em mercado de luxo, essa modalidade de trem relembra a era vitoriana e eduardiana, quando a sociedade abastada se interessava por viagens suntuosas e culturais. “Os trens eram palácios em movimento, com decorações estonteantes, alta gastronomia e ambiente exclusivo de convívio social entre os membros da elite”, afirma. No contexto atual, a especialista diz que o interesse pela modalidade reflete uma volta ao erudito. “Os trens carregam a magia das histórias incríveis de grandes escritores, como clássicos de Agatha Christie”, explica.
O Venice Simplon-Orient-Express (VSOE) é o trem mais popular e desejado pelos turistas. Fornece um serviço exemplar entre Londres e Veneza, mas também vai a outras cidades europeias. Propriedade da rede Belmond, seus vagões possuem painéis de madeira e finos trabalhos em metal. O artista francês René Prou projetou os seis vagões-leito, cada um deles ornamentado com um design de marchetaria em Art Déco. O vagão-restaurante traz à tona a década de 1920, com mesas detalhadas, cristais e porcelana. O custo? A partir de quatro mil libras, ou R$ 24 mil por noite, na versão mais econômica.
O The Ghan, que percorre o deserto australiano, conserva a sofisticação da época em que foi inaugurado, em 1929. Renovado recentemente por causa da alta demanda, faz trajeto entre Darwin, na costa norte do país, e Adelaide, no extremo sul, e garante vistas espetaculares. A jornada de quase 3 mil quilômetros leva 54 horas e a passagem pode chegar a R$ 8 mil por pessoa.
Já o Twilight Express Mizukaze, ou simplesmente Mizukaze, é o trem mais luxuoso do Japão. Oferece viagens exclusivas pelo oeste do país. Com uma lotação máxima de apenas 34 passageiros, suas passagens são bem disputadas, com uma lista que pode passar de um ano de espera. A compra do pacote só pode ser realizada de forma presencial, e o preço gira em torno de R$ 20 mil, variando de acordo com a estação. O estilo do trem foi supervisionado pelo designer Tetsuo Fukuda e pelo renomado arquiteto e designer de interiores Kazuya Ura. Hoje o Mizukaze faz excursões nas regiões de Keihanshin, Sannin e Sanyo, mas deve aumentar o número de rotas devido à procura.
Quando o assunto é viagem sobre trilhos, opções não faltam. Há outros exemplos de sucesso no Canadá, no Peru e na Escócia, onde o Jacobite Steam Train atrai multidões por ter sido usado para retratar o Expresso de Hogwarts nos filmes de Harry Potter.
Enquanto o mercado é dominado pelo grupo hoteleiro Belmond, que opera seis trens ao redor do mundo, outros grandes nomes do turismo pretendem investir nesse setor nos próximos anos. O grupo Accor colocará o Nostalgia Istanbul Orient-Express nos trilhos em 2025, um ano após o lançamento do Dolce Vita, trem que terá como inspiração a história da Itália dos anos 1960. A partir do verão de 2023, o Puy du Fou oferecerá “Le Grand Tour”, um cruzeiro de seis dias que percorrerá mais de 4 mil quilômetros dentro do território francês. Todos a bordo?
