Em 1850, durante o governo do imperador Dom Pedro II, o Brasil viveu uma crise sanitária decorrente da chegada do flavivírus ao País. A febre amarela infectou rapidamente a população e chegou a fazer, entre suas vítimas, políticos que negavam a sua gravidade. Em um discurso inflamado no Senado, o mineiro Bernardo Pereira de Vasconcellos acusou o governo de “espalhar o terror entre os cidadãos”. Duas semanas depois, estava morto — vítima da febre amarela. Qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera coincidência, mas uma esperança que certa normalidade voltará ao cotidiano dos brasileiros em 9 de agosto: é a estreia da primeira novela inédita desde o início da pandemia, em março de 2020.

Ambientada no Rio de Janeiro e na Bahia, a novela das seis “Nos Tempos do Imperador”, exibida pela Globo, é uma trama de época centrada no triângulo amoroso formado pelo Imperador Dom Pedro II (Selton Melo), a Imperatriz Teresa Cristina (Leticia Sabatella) e Luísa, a Condessa de Barral (Mariana Ximenes). “O resgate do contexto histórico vai gerar identificação com o público e debater temas contemporâneos”, diz o diretor Vinícius Coimbra.

Nos tempos da pandemia
DESAFIO Reaprendendo a trabalhar: elenco e produção tiveram de se adaptar para encarar a nova rotina de filmagens (Crédito:Fabio Rocha/TV GLOBO)

As gravações começaram em março de 2020, mas foram interrompidas devido à pandemia. Seguindo os protocolos de segurança, só foram retomadas em novembro. A produção, porém, teve de ser adaptada para driblar as dificuldades. “Estamos fazendo algo inédito”, diz Coimbra. “Normalmente, na estreia, temos 18 capítulos gravados e trabalhamos com uma frente de dez capítulos. Agora, com a otimização do elenco e equipe, podemos filmar no mesmo dia cenas dos capítulos 28 e 80, por exemplo. Encontrar a emoção dos personagens levando em conta esse intervalo é mais um desafio para os atores e para a direção. Estamos reaprendendo a fazer novela dessa forma”, diz o diretor.

Amor e guerra

“Nos Tempos do Imperador” marca a volta de Selton Mello às novelas, 21 anos após “A Força de um Desejo”, sua última experiência. O ator tem se dedicado ao cinema e produções para o streaming, mas aceitou o convite porque estava diante de uma “chance rara de trazer ao público uma parte essencial da nossa história” sem adotar o formato de documentário. E confessa apreço pessoal pelo personagem: “Dom Pedro II sonhava com um Brasil grande, recheado de conhecimento e educação.”

A trama criada por Alessandro Marson e Thereza Falcão traz como subtexto a Guerra do Paraguai, conflito entre a nação sulamericana e a tríplice aliança, formada por Brasil, Argentina e Uruguai. Seu tema central, no entanto, é mesmo a história de amor. Assim como o pai, Dom Pedro II teve que aceitar um casamento arranjado, fruto de um acordo político com os Bourbon, dinastia europeia que queria assegurar a sucessão ao trono. A boa relação entre o casal real, Dom Pedro II e Teresa Cristina, trouxe estabilidade e gerou duas filhas, Leopoldina (Melissa Nóbrega/ Bruna Griphao) e Isabel (Any Maia/ Giulia Gayoso). Quando elas passaram a assumir responsabilidades, o Imperador convidou Luísa, a Condessa de Barral, para educá-las. A personagem de Mariana Ximenes é uma mulher educada na Europa, de personalidade forte. Ao conhecê-la, Dom Pedro II cai de amores e passa a desejá-la — está aí o coração do folhetim.

Mariana Ximenes conta que mergulhou na personagem: “Eu não conhecia sua história, mas li a biografia de Mari Belchiore e me apaixonei. A Condessa de Barral tem uma força, é espirituosa, tem conhecimento. É uma mulher moderna, à frente do seu tempo, fascinante”, diz. Para a atriz, interpretar uma personagem que existiu traz mais responsabilidade. “Espero ser leal, pois é um papel delicado.” A novela não deixará de abordar o surto de febre amarela da época – em uma produção marcada por tantas dificuldades, retratar de maneira fiel as agruras de uma história que se repete certamente será a parte mais fácil.