O  ensaio da interinidade terminou às 16h52 de quarta-feira 31, com a assinatura do termo de posse. Na sessão solene no plenário de Senado, a banda dos fuzileiros navais tocou o Hino Nacional e o compromisso constitucional foi jurado às 16h49. A decisão de não usar a faixa presidencial na posse e no feriado de Sete de Setembro foi tomada dias antes. Depois das selfies e dos tapinhas nas costas, empurra-empurra do trajeto pelo Congresso Nacional e a assinatura no termo de posse, vieram os cumprimentos do presidente do Senado, seguido de um informal “tamo junto” de Renan Calheiros. A orquestra sob a nova regência no Palácio do Planalto começou para valer. Michel Temer tomou posse como presidente da República convicto de que a sinfonia sob sua batuta até 31 de dezembro de 2018 depende de fortes timbres de composição política.

“Tamo junto” Foi a primeira frase de Renan Calheiros após a assinatura de posse de Temer
“Tamo junto” Foi a primeira frase de Renan Calheiros após a assinatura de posse de Temer (Crédito:Fotos: Beto Barata/PR; Beto Barata/PR; Carolina Antunes)

Para reger, ao seu estilo, as partituras do novo governo, o político do PMDB, conhecido pela capacidade de articulação de quem já foi três vezes presidente da Câmara dos Deputados, sabe que não basta dançar conforme a música. Só com uma meticulosa administração de sua base aliada, Temer dará harmonia, velocidade de execução, naipes e nuances para garantir a governabilidade até o fim do mandato de dois anos e quatro meses. Não por acaso, seus aliados gostam de dizer que, só no período de interinidade, Temer já recebeu mais deputados e senadores do que a presidente Dilma Rousseff nos cinco anos em que esteve no poder. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, compara um de seus mais próximos conselheiros e amigo há 30 anos, o consultor político Gaudêncio Torquato. “Se há uma palavra que defina Michel Temer, ela se chama diálogo. O sonho do presidente é viabilizar o País, avançar nas reformas, e chegar às eleições com o Brasil pacificado.”

Definitivo: O termo de posse assinado
Definitivo: O termo de posse assinado (Crédito:Fotos: Beto Barata/PR; Beto Barata/PR; Carolina Antunes)

Mais do que a primeira reunião ministerial após a posse, o pronunciamento à nação em rede nacional, ou a viagem a China para a reunião do G20, Temer dá inicio efetivo ao seu governo com a cabeça no futuro. Fará parte do jogo político reafirmar sua posição de não ser candidato, mas ele considera essencial evitar o lançamento precipitado de candidaturas para as próximas eleições presidenciais. Neste primeiro momento, isso prejudicaria o conjunto das articulações. O governo precisa do apoio do Congresso para aprovar as reformas da previdência e trabalhista, equilibrar as contas públicas, levantar a economia e resgatar a estabilidade política. “Ele já trabalha para manter um consenso na sua base e serenar os partidos. Michel sabe que deve acalmar Henrique Meirelles e José Serra nessa direção e demover qualquer fala sobre candidatura”, explica um interlocutor do presidente. “É importante não criar atritos com o PSDB, com Geraldo Alckmin e com Aécio Neves, possíveis presidenciáveis.” Além disso, um passo em falso nessa seara poderia significar, na pior das hipóteses, uma ameaça de saída do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o que seria péssimo.

Composição: Em 100 dias, Temer já recebeu mais parlamentares do que Dilma em cinco anos
Composição: Em 100 dias, Temer já recebeu mais parlamentares do que Dilma em cinco anos (Crédito:Fotos: Beto Barata/PR; Beto Barata/PR; Carolina Antunes)

Nos meandros das articulações, Temer é procurado até mesmo por quadros do PT que querem permanecer em estatais. “Os cargos de confiança querem ter a confiança do novo governo”, diz um político. Ajustes no ministério estão previstos. Em novas rodadas com partidos aliados, Temer checará quais ministros estariam desajustados ao novo momento. A substituição do ministro da Saúde, Ricardo Barros, dada como certa, passa pelo endosso partidário do PP, mesmo que o nome dos sonhos de Temer para a Saúde ainda seja o médico Raul Cutait, que declinou do convite na fase de interinidade. Há dúvidas se Geddel Vieira Lima deva ficar com a articulação política na secretaria de Governo. “Ele é de muita confiança, mas atira demais”, lembra um aliado. A ordem é articular para apaziguar.


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