O médico judeu Taylor Nichols tem autuado na linha de frente do combate à Covid-19 na Califórnia, nos Estados Unidos. No último final de semana, ele relatou em um texto publicado pelo jornal The Washington Post como foi socorrer um paciente com suásticas e outros símbolos nazistas tatuados pelo corpo.

De acordo com Nichols, o homem chegou ao hospital de ambulância e apresentava falta de ar severa. “Quando o colocamos na maca e tiramos sua camisa para colocar um avental hospitalar, havia uma coisa em que todos nós reparamos: as tatuagens nazistas”, relatou.

“A suástica destacou-se fortemente em seu peito. Tatuagens da SS [organização nazista paramilitar que servia a Adolf Hitler] e outras insígnias nazistas corriam por seus braços”, detalhou o médico.

Segundo Nichols, enquanto o paciente estava sendo atendido ele teria dito: “não me deixe morrer, doutor”. O médico afirma que assegurou ao homem de que a equipe faria tudo o que fosse possível para mantê-lo vivo.

“Todos nós, uma equipe que incluía um médico judeu, uma enfermeira negra e um terapeuta respiratório asiático. Todos nós vimos. Os símbolos de ódio em seu corpo anunciavam externamente e com orgulho seus pontos de vista. Todos sabíamos o que ele pensava de nós. Como ele valorizou nossas vidas. Mas nosso trabalho era valorizar a dele”, escreveu Nichols.

Em seguida, o médico conta que perguntou ao paciente — que não teve sua identidade revelada — se ele permitiria ser entubado e o homem respondeu que se essa fosse a única opção para ele sobreviver, a equipe poderia fazer o que fosse necessário.

Médico relata hesitação

No relato, o médico afirma que aquela não era a primeira vez que se via diante de pacientes com símbolos nazistas. “Todas as vezes em que eu me vejo nessa situação, eu me sinto um pouco balançado. E, em todas as vezes, eu sou capaz de controlar minhas emoções serena e rapidamente”, afirma Nichols.

“Eu repassei o plano com a enfermeira e o terapeuta respiratório. E eu pausei. Eu vi a tatuagem da SS e me perguntei o que ele pensaria sobre ter um médico judeu cuidando dele agora — e em quanto ele se importaria em salvar minha vida se trocássemos os papéis. E, pela primeira vez em minha carreira, eu reconheço que hesitei”, admitiu o médico.

“Depois que o paciente foi entubado e estabilizado, eu nunca mais o vi. Mas ele me ensinou uma lição que agora compartilho com outros profissionais da saúde: esta pandemia está, simultaneamente, testando e fortalecendo nossa compaixão.”

“Nós nos apoiamos para assegurar que poderemos dar a você nossos melhores cuidados. Nossas portas estarão sempre abertas, não importando quem você seja, para que você possa procurar tratamento quando precisar”, concluiu o médico.