Nos bastidores, membros do governo Lula avaliam que anúncio de Flávio é estratégia para 2030

Integrantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e políticos de partidos de centro avaliam que a decisão de Jair Bolsonaro de lançar seu filho Flávio como candidato à Presidência da República representa uma estratégia voltada para 2030 e para a manutenção do espólio político da família.

Ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, sob reserva, os políticos consideram que o anúncio confronta diretamente os planos do Centrão para lançar Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, como candidato à Presidência com o apoio de Bolsonaro – em troca de um indulto em caso de vitória em 2026.

Apesar de manter discurso público de que buscaria a reeleição em São Paulo, o governador dava sinais, nos bastidores, do desejo de ser candidato ao Planalto.

O anúncio de que Flávio Bolsonaro será o candidato representante do bolsonarismo nas eleições de 2026 pegou o mundo político de surpresa – mais pelo timing do que pela informação em si.

Integrantes do governo Lula mantinham ceticismo quanto à possibilidade de Tarcísio de Freitas abdicar de uma reeleição em São Paulo para disputar a Presidência por Bolsonaro. O momento de anunciar esse apoio, no entanto, foi inesperado.

Apesar de alguns ministros do governo verem o anúncio como um “balão de ensaio” – jargão jornalístico que se refere à prática de atores políticos vazarem informações para testarem a repercussão antes de confirmarem -, há elementos que apontam na direção oposta. Primeiro porque Flávio e o PL confirmaram a informação. Segundo porque, mesmo após a péssima repercussão junto ao mercado financeiro (o Ibovespa caía quase 4% às 16h30 desta sexta-feira), não houve nenhum recuo.

Desde que Bolsonaro foi preso, em 24 de novembro, Flávio se tornou seu principal interlocutor com o mundo externo, algo parecido com o papel que Fernando Haddad representou para Lula em 2018, quando o petista ficou preso na Polícia Federal em Curitiba. Afastado das articulações políticas e do contato diário com aliados, Bolsonaro passou a receber informações sobretudo por meio do filho.

Integrantes do governo ouvidos pela reportagem veem na decisão de lançar Flávio como candidato uma estratégia para manter o eleitorado de direita de olho nas eleições de 2030, cientes de que o pleito de 2026 será mais difícil por se tratar de uma campanha contra o atual presidente.

Lula não tem os melhores índices de aprovação, mas ainda assim dispõe da máquina pública, de programas sociais que serão lançados no ano que vem, do capital político pela isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais e de uma estrutura de publicidade estatal robusta.

A ameaça para Bolsonaro, nessa perspectiva, não estaria na esquerda, mas no campo da centro-direita. O presidente do PP, Ciro Nogueira, chegou a expor insatisfação com o que chamou de “falta de bom senso e estratégia no centro e na direita” e defendeu que o foco da união formada com o União Brasil fosse nas “eleições estaduais e nas nossas bancadas”. A publicação foi feita no X em 19 de novembro. Jair Bolsonaro já estava em prisão domiciliar, e não na sede da Polícia Federal.

O apoio a Tarcísio de Freitas, apesar de garantir uma chance maior de vitória contra Lula em 2026 e, consequentemente, de um indulto a Bolsonaro, escantearia a família politicamente: em caso de vitória, pelo motivo óbvio de que o principal nome da direita passaria a ser o governador de São Paulo; em caso de derrota, porque o nome testado nas urnas e com “recall” seria o de Tarcísio.

Não está claro, para pessoas de fora do núcleo mais duro do bolsonarismo, o motivo que levou Flávio a anunciar nesta sexta que será o candidato representando seu pai, quando a informação até então era de que o ex-presidente usaria todo o tempo até maio para tomar uma decisão. A forma como a notícia atingiu o mundo político demonstra que houve pouca participação dos caciques dos principais partidos de centro no processo decisório de Bolsonaro.