ROMA, 17 DEZ (ANSA) – Em viagem pela Itália, a noiva turca do jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado no consulado de seu país em Instambul no dia 2 de outubro de 2018, afirmou nesta terça-feira (17) estar “decepcionada com todos os países” e com organizações internacionais, como a ONU, e a União Europeia por não realizarem “nenhum tipo de ação séria contra a Arábia Saudita”. De acordo com Hatice Cengiz, a incapacidade de agir “das instituições para impor sanções à Arábia Saudita deveria ser motivo de preocupação para todos depois que seu parceiro foi morto”.   

Ela, no entanto, chegou a parabenizar a “Alemanha e outras nações que bloquearam a venda de armas para a Arábia Saudita”, porque “é uma resposta”. As declarações foram dadas durante coletiva de imprensa em Roma e em uma reunião com a comissão de Direitos Humanos no Senado.   

“Que ninguém tenha sido punido, quando todos sabemos o que aconteceu, é realmente embaraçoso para toda a humanidade”, acrescentou. Khashoggi foi assassinado no dia 2 de outubro do ano passado e teve seu corpo desmembrado por ordens do alto escalão saudita. O príncipe saudita, Mohammed Bin Salman chegou a admitir responsabilidade pelo crime, porque aconteceu sob sua guarda. A CIA e alguns governos ocidentais disseram acreditar que o herdeiro do trono ordenou a morte. Para Cengiz, o assassinato só começou a ser “investigado com mais profundidade” depois que um relatório da ONU divulgado em junho encontrou evidências de que o crime tinha sido “premeditado” e orquestrado por funcionários de alto escalão da administração saudita. Durante a coletiva, a companheira de Khashoggi aproveitou para fazer duras críticas contra o Parlamento da Itália, a cúpula do G20 em Riad, que acontecerá no próximo ano, e a celebração da Supercopa da Itália marcada na capital saudita. Segundo ela, os últimos dois eventos “promovem um país que patrocinou um assassinato de Estado”.   

“A pessoa que eu mais amei na vida foi assassinada na embaixada da Arábia Saudita, e quando eu ouço que a Itália vai jogar um jogo em seu território, isso parte meu coração”, disse. Além disso, ela reforçou que não adianta os jogadores da Lazio e Juventus utilizarem símbolos de protesto durante a competição porque “seria ridículo”. “Eles aceitaram muito dinheiro para ir para lá, seria melhor não aceitar e não ir. Como isso provavelmente não vai acontecer e eles vão jogar o jogo, naquele momento não faria sentido protestar no campo”. Cengiz ainda acusou a Arábia Saudita de “contar mentiras” e diversas versões sobre a morte do repórter e o governo italiano não dizer nada.   

“Quero entender por qual motivo o Parlamento italiano também não diz nada, não reage contra essas mentiras. Para viver civilmente, uma investigação internacional independente deve ser realizada”, defendeu ela.   

Kahshoggi, que era colunista do jornal “The Washington Post”, foi ao consulado saudita em Istambul, onde morava, para coletar documentos para se casar com Cengiz, mas nunca saiu de lá.   

Em entrevista à ANSA, a turca fez um apelo ao governo italiano para fazer mais pelo caso. “A Itália é uma das democracias mais famosas da história e tenho vergonha pelo fato que não só há crime, mas também nenhuma condenação, verbal ou escrita” sobre o assassinato. “Nada foi feito até agora. Não apenas história escreverá que alguém foi morto e que um governo é responsável, mas a história também escreverá que outros permaneceram em silêncio”, afirmou Cengiz à ANSA. Ela ressaltou que entende que não pode “pedir muito a cada governo específico porque as relações com o reino da Arábia Saudita são diferentes, mas em suas possibilidades” pede “ações mais sérias para que no futuro [a Itália] possa ter orgulho da sua resposta e não ter vergonha do seu silêncio”. “A comissão de Direitos Humanos do Senado italiano me prometeu que promoverá uma investigação sobre o caso, que escreverá às autoridades competentes para assumir posições mais sérias”, concluiu. (ANSA)