O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, ganhou nesta sexta-feira (7) o Nobel da Paz por promover um acordo de paz assinado com as Farc, um reconhecimento após ambas as partes anunciarem que discutirão “ajustes” ao texto, rejeitado em um plebiscito.

“Esperamos que isso encoraje todas as boas iniciativas e todos os atores que poderiam ter um papel decisivo no processo de paz e leve, finalmente, a paz à Colômbia depois de décadas de guerra”, declarou a presidente do Comitê Nobel norueguês, Kaci Kullmann Five.

Após o anúncio, em Havana, sede das negociações de paz que duraram quase quatro anos, o governo colombiano e as Farc concordaram em manter o cessar-fogo e discutir “propostas de ajuste” ao acordo assinado em 26 de setembro e rejeitado surpreendentemente no plebiscito de domingo.

“Reiteramos o compromisso assumido” pelas partes “de manter o cessar-fogo e de hostilidades bilateral e definitivo decretado em 29 de agosto passado”, explicou o comunicado conjunto.

Em Bogotá, Santos, de 65 anos, disse que dedicava esse grande prêmio ao povo colombiano.

“Recebo este prêmio em seu nome: o povo colombiano que tanto sofreu por esta guerra”, declarou, em entrevista à Fundação Nobel, acrescentando que “estamos muito, muito próximo de alcançar a paz”.

Antigos “falcões” convertidos em pombas, Santos e o comandante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Rodrigo Londoño, “Timochenko”, assinaram em 26 de setembro um acordo histórico para colocar fim a um conflito que durava mais de meio século.

Contra todas as previsões, o povo colombiano rejeitou o acordo em um referendo no último domingo, exigindo, entre outras medidas, que os guerrilheiros desmobilizados não possam participar da vida política e que sejam levados à prisão, em vez de se beneficiar de penas alternativas.

De Cuba, Timochenko comemorou o prêmio.

“Felicito o presidente Juan Manuel Santos, os avalistas Cuba e Noruega e os observadores Venezuela e Chile, sem os quais a paz seria impossível”, escreveu em sua conta no Twitter.

Álvaro Uribe, ex-presidente colombiano e grande vencedor do referendo de domingo, também felicitou seu sucessor e adversário e desejou a ele “que conduza a mudanças nos acordos nocivos para a democracia”.

Além disso, os máximos representantes da União Europeia (UE) parabenizaram em bloco nesta sexta-feira seu “amigo” Juan Manuel Santos por um prêmio que “encoraja a seguir buscando a paz”.

Apoio às negociações

Santos recebeu uma enxurrada de saudações, do presidente americano, Barack Obama, ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, entre vários líderes mundiais.

“O Comitê Nobel tomou a decisão correta ao acolher seus esforços incansáveis para conseguir uma paz justa e duradoura na Colômbia”, afirmou Obama, agraciado com o mesmo prêmio em 2009, com poucos meses ocupando a Casa Branca.

Dentro e fora da Colômbia, o prêmio foi visto como um apoio ao processo de paz, suspenso desde o revés eleitoral de domingo.

“O fato de a maioria dos eleitores ter dito não ao acordo de paz não significa necessariamente que o processo de paz está morto”, argumentou o Comitê Nobel, ao alertar para o “perigo real de que o processo de paz seja interrompido e de que a guerra civil seja retomada”.

“Este é um grande impulso. Estamos a ponto de pôr fim a essa guerra, e isso será muito importante”, disse o próprio Santos na entrevista por telefone em que o prêmio foi notificado, divulgada pelo comitê.

Os colombianos se mostraram divididos ante o reconhecimento de Santos, que celebrou no palácio presidencial durante todo o dia: primeiro, com promotores do “sim” à paz no plebiscito e, depois, com seus funcionários.

‘Até o último minuto’

A congressista Clara Rojas, que passou quase seis anos sequestrada pelas Farc, disse à AFP que o Nobel constitui “um impulso, um sinal da comunidade internacional de que temos que produzir em breve um resultado, porque, sem dúvida, não só é a paz da Colômbia, é a paz do mundo” que está em jogo.

José Alberto Soriano, de 18 anos e cujo avô foi assassinado pelas Farc em 1991, disse que não estava de acordo com a decisão do Comitê Nobel, porque Santos foi muito condescendente com os rebeldes.

“Eles matam famílias e acham que nós temos que nos ajoelhar diante deles”, declarou.

De acordo com a tradição, o Comitê não quis explicar o motivo pelo qual este prêmio não foi compartilhado com as Farc. Questionada sobre o tema, Kullman Five não quis responder e alegou: “nunca fazemos comentários sobre outros candidatos, ou outras possibilidades”.

A ex-senadora e ex-refém da guerrilha Ingrid Bettancourt opinou, por sua vez, que o grupo armado “também merecia ter recebido o Nobel da Paz”, em uma entrevista ao canal de notícias francês I-Télé.

“Um prêmio às Farc teria provavelmente sido mal encarado pelos que são céticos sobre o acordo de paz”, explicou o diretor do Instituto de Pesquisa sobre a Paz de Oslo (Prio), Kristian Berg Harpviken.

Santos, que quando foi ministro da Defesa durante a presidência de Uribe lançou a maior ofensiva contra a guerrilha marxista, decidiu seguir a via das negociações após ser eleito presidente, há seis anos.

“Seguirei buscando a paz até o último minuto do meu mandato, porque esse é o caminho para deixar um país melhor para os nossos filhos”, prometeu recentemente.

O prêmio fortalece o presidente em sua busca por uma reconciliação na Colômbia, castigada por décadas de violência entre guerrilhas, paramilitares e forças estatais, com um balanço de 260 mil mortos, 45 mil desaparecidos e 6,9 milhões de deslocados.

O prêmio, que consiste em uma medalha de ouro, um diploma e um cheque de oito milhões de coroas suecas (950.000 dólares), será entregue em Oslo, no dia 10 de dezembro.