VISUAL 3D Versões digitais do quadro Noite Estrelada, uma das obras favoritas do público: experiência transformadora (Crédito:Rodrigo Gaya Villar)

Vincent Van Gogh morreu no século 19 e despertou no 21. Há muito tempo ele não é somente o pintor de belas obras pós-impressionistas, mas, também, o mestre holandês que ultrapassou os limites do artista: tornou-se um ícone pop. Seu nome é uma marca global bilionária, que rende produtos, adaptações cinematográficas e exposições em todo o mundo. A partir de março, os brasileiros poderão ver de perto um dos mais recentes desdobramentos de seu trabalho: chega ao País a mostra Beyond Van Gogh, evento imersivo que usa tecnologia de ponta para colocar o público “dentro” do universo criado pelo gênio.

Construída em um pavilhão com mais de dois mil metros quadrados no Morumbi Shopping, em São Paulo, a mostra exibirá cerca de 300 obras-primas. O formato, no entanto, está longe das telas e molduras dos museus ou galerias tradicionais: os girassóis e noites estreladas de Van Gogh vão ganhar vida em imagens gigantescas, exibidas por 40 projetores a laser interligados por fibra ótica. “É a primeira vez que um equipamento assim será usado no Brasil”, afirma Rafael Reisman, CEO da Blast Entertainment. O produtor, que espera mais de 200 mil espectadores até julho, defende que o conceito de exposições imersivas se tornou uma tendência mundial. “Há alguns anos essas mostras tinham apenas imagens projetadas na parede.

Rodrigo Gaya Villar

Hoje, com projeções simultâneas também no chão e no teto, além de uma envolvente trilha sonora, há uma sensação ‘3D’ que leva o público a ‘entrar’ no quadro.” Segundo Reisman, esses avanços tiveram impacto direto no custo da produção: somente a enorme tela usada na estrutura ultrapassa os R$ 400 mil. Os projetores têm valor ainda maior: cerca de R$ 12 milhões.

O fascínio do público por Van Gogh levou a uma guerra pelo formato da experiência. O conceito fez tanto sucesso durante a pandemia que cinco instituições disputaram espaço nas capitais americanas para sediar suas respectivas exposições. A que chega ao Brasil em março é a franquia mais popular entre elas, vista por mais de dez milhões de pessoas em todo o mundo. É semelhante à exposição do L’Atelier des Lumières, que ficou famosa no mundo inteiro após aparecer na série Emily em Paris, da Netflix.

Depois de São Paulo, Beyond Van Gogh segue para temporada em Brasília, de julho a outubro. Será uma experiência bem diferente para o público que está acostumado a frequentar museus. Até hoje, os admiradores do pintor holandês tinham que se contentar com os quatro quadros de sua autoria existentes no País, todos parte do acervo do Museu de Arte de São Paulo: os retratos A Arlesiana e O Escolar, e as paisagens Passeio ao Crepúsculo e Banco de Pedra no Asilo de Saint-Remy, elaborados durante o período que ele passou no hospital Saint-Paul de Mausole. Quem preferir ver uma coleção mais abrangente de suas pinturas terá de viajar ao exterior ou esperar até 2025, quando o MASP exibirá uma grande retrospectiva do pintor – à moda antiga.

FAMA TARDIA
900 quadros em uma década

Van Gogh produziu 900 pinturas em apenas uma década, antes de sofrer com a doença mental que o levou ao suicídio. A fama veio onze anos depois, com uma lendária mostra em Paris onde foram exibidos 71 quadros