O candidato a prefeito Márcio França (PSB) disse nesta quarta-feira (4) que se não houver creche para todos até o fim de 2021 renunciará ao cargo de prefeito. França participou de entrevista realizada pelo Estadão em parceria com o Todos pela Educação sobre os planos específicos para Educação caso seja eleito.

A entrevista contou com a apresentação da presidente do Todos Pela Educação, Priscila Cruz, e a participação dos repórteres Renata Cafardo e Bruno Ribeiro. Educação infantil, orçamento e valorização de professores foram os assuntos mais abordados.

Márcio França disse que pretende criar vagas em creches e que é “inadmissível” que as famílias não tenham o direito a esse atendimento. “Não dá para deixar uma só criança fora de creche. No fim do ano que vem, se não houver creche para todo mundo, eu renuncio”, disse o candidato à Prefeitura.

Como o Estadão mostrou, a pandemia do novo coronavírus fará com que, pela primeira vez desde que passou a ser monitorada, não haja fila para creches em São Paulo no fim de 2020. A diminuição tem relação com o fato de que as famílias deixaram de buscar atendimento uma vez que as unidades estão fechadas. Mas a estimativa é de que de 50 mil crianças possam buscar vagas no ano que vem.

Ele reconhece que não seria possível criar vagas próprias na Prefeitura para todos imediatamente e afirmou que pretende ampliar convênios. “O que não dá é para a pessoa esperar mais um ano, dois anos, até construir uma unidade. Uma construção física leva um tempo. Para uma emergência, tem de comprar a vaga onde tiver.” O candidato também disse que pretende ampliar os horários das creches, para que mulheres que trabalham possam deixar as crianças e buscá-las mais tarde.

Professores e aprendizagem

Para recuperar a aprendizagem dos alunos, França disse que é preciso investir na modernização de salas de aula e na valorização do professor. Ele afirmou que o professor de São Paulo deveria ser o mais bem pago do Brasil e que a cidade, por sua riqueza econômica, teria de desempenhar papel de liderança em relação às demais. França pretende ainda oferecer aulas aos finais de semana para a recuperação de aprendizagens que não ocorreram durante a pandemia. Para isso, prevê contratar professores extras.

Em relação à dinâmica em sala de aula, o plano de governo do candidato indica que deve haver hierarquia e disciplina. “A disciplina e a hierarquia são importantes para qualquer coisa na vida, mas não tem nada a ver com a escola militar. Não é admissível que alunos possam ter a ideia de que professor está a passeio. O professor é autoridade na sala.”

O candidato afirmou ainda que, se eleito, deve investir em cursos técnicos para alunos do fundamental e do ensino médio e até em universidade virtual para que os estudantes tenham melhores oportunidades. Indagado se essas não seriam competências do Estado (a Prefeitura deve cuidar, prioritariamente da educação infantil e do ensino fundamental), França disse que “todo aluno é da responsabilidade da Prefeitura” e que a educação “tem de ser encarada como um todo”.

Orçamento

Questionado sobre recursos para todas essas tarefas, o candidato citou os cargos em comissão, que, segundo ele, custam R$ 70 milhões por mês. “No meu governo, vou nomear 1% desses cargos. Só aí são R$ 800 milhões a menos de gasto”, diz França. Ele afirmou ainda que se trata de encarar a Educação como prioridade e criticou obras concluídas pelo prefeito Bruno Covas (PSDB), candidato à reeleição, como a instalação de fontes no Vale do Anhangabaú, no centro. “Não existe obra mais importante do que garantir que cada aluno possa entrar em uma creche.”

Pandemia

Sobre a pandemia do coronavírus, que forçou o fechamento de escolas na capital, França disse que a Prefeitura não garantiu o acesso de alunos às atividades remotas nem planejou bem o retorno à sala de aula. “Grande parte dos alunos não têm acesso a nada. É uma mentira que o ensino está sendo feito a distância.” O prefeito Bruno Covas liberou nesta terça-feira a volta das aulas regulares para o ensino médio apenas.

Para o candidato do PSB, faltou adequação de banheiros, por exemplo, e testes para o novo coronavírus. Indagado se liberaria a volta às aulas caso estivesse no comando da Prefeitura, ele disse que teria se preparado adequadamente para abrir. “A vacina é um conto de fadas. Se não tiver a vacina, seria correto deixar as crianças que têm dinheiro nas escolas privadas e os que não têm no ensino remoto com um ipad que estão desde o começo do ano para entregar para os alunos?”, indagou França.