Na cerimônia do Oscar, no domingo (12), duas coisas foram muito faladas, repetidas por vários apresentadores e vencedores. Uma foi o longo e curioso título do grande vencedor da noite, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. A outro, expressa em frases de formulações diferentes, foi a referência à volta do público às salas de cinema. Em alguns casos, em tom de celebração, um agradecimento aos fãs que saem novamente de casa. Em outro contexto, daqueles que se preocupam com as bilheterias ainda distantes dos números pré-pandemia, parecia uma campanha deflagrada para fazer todo mundo ir ao circuito comercial.. De qualquer modo, há uma questão a discutir nesse momento.
O retorno das pessoas às poltronas ainda é tímido. O blockbuster do ano passado, Top Gun Maverick, conseguiu a façanha ao recorrer a um título que está na memória afetiva de gerações, Top Gun, com a força de seu resiliente astro, Tom Cruise. O galã agora sessentão é o único nome quente de Hollywood a conseguir emplacar um filme recente dentro de sua habitual faixa de arrecadação da última década antes da pandemia, na qual Cruise tem a média de US$ 167 milhões nas salas de exibição. Top Gun Maverick enfrenta um grande inimigo: a percepção despertada nas pessoas de que é possível ter prazer no cinema em casa, e muitas circunstâncias colaboraram para isso. Segundo levantamento da revista Time de 2021, no auge das limitações impostas pela Covid, 66% dos americanos acreditavam sentir o mesmo prazer de ver filmes no ambiente doméstico do que indo às salas. Dois fatores ajudaram bastante para essa satisfação: o intervalo cada vez mais curto entre o lançamento do filme no circuito comercial e a entrada do título nas plataformas de streaming, e a opção por um poderoso set de home theater cada vez mais acessível ao bolso.

As operadoras de streaming já colocam muito dinheiro na produção de filmes para o cinema. Basta contar quantas vezes os discursos de agradecimento do Oscar citaram nomes como Netflix e HBOMax. Natural que encurtem cada vez mais o intervalo para as estreias no streaming. No Brasil, recentemente muitos títulos ficaram disponíveis para diversão caseira antes mesmo de o filme sair de cartaz dos cinemas, casos do cult Crimes do Futuro, do sempre genial e muitas vezes desagradável David Cronenberg, e do blockbuster de super-herói Adão Negro, da DC/Warner. Sendo assim, como atender ao clamor dos produtores pelo retorno mais forte às salas de exibição? Cada país precisa lidar com suas características.

No Brasil, que tem uma situação de retorno às salas bem mais complicada do que nos Estados Unidos e em vários países da Europa, o preço dos ingressos beira o proibitivo. Cinema é tradicionalmente uma diversão barata, ou foi, por muito tempo. É o jeito de agradar a um público bem jovem. Pagar caro pelo suposta experiência proporcionada pelas telas gigantes e sistemas bombásticos de reproduzir imagens e som parece atrativamente fraco para uma geração cada vez acostumada ao mundo na telinha do celular.