O consumo de sorvete no Brasil alcançou uma média de 9,1 litros por pessoa ao ano, um crescimento de 15% em relação a 2023, segundo a ABRASORVETE. Apesar dos números positivos, o setor enfrenta desafios estruturais que vão além da tributação. Para o Chef Francisco Sant’Ana, fundador da Escola Sorvete, uma das principais vozes do setor, o país ainda carece de uma legislação séria que proteja o consumidor e valorize a produção artesanal de qualidade. “Não temos uma legislação efetiva no momento. O mercado precisa se unir para exigir uma regulação que diferencie o que é sorvete premium, médio e de baixa qualidade. Só assim avançaremos de verdade”, afirma o Chef.

Francisco Sant’Ana, que já formou mais de 5 mil alunos em sua escola, se destaca como o principal formador de novos sorveteiros no Brasil, ajudando a elevar os padrões da produção nacional. Ele também critica a predominância de sorvetes artificiais no mercado. “Não faz sentido que um país que produz tanta fruta natural opte por produzir sorvetes artificiais que apenas imitam o sabor da fruta.”

A luta por melhores condições fiscais

No campo tributário, o presidente da ABRASORVETE, Martin Eckhardt, lidera iniciativas para aliviar o setor, que hoje carrega uma pesada carga de impostos. Estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul já avançaram na exclusão do ICMS-ST, mas ainda há muito o que ser feito. Segundo Eckhardt, a exclusão do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) também está em tramitação, o que seria fundamental para fomentar o crescimento do setor. Ele reforça que essas mudanças são essenciais para atingir a meta do projeto da entidade, “50 em 10”, que pretende aumentar o consumo de sorvete em 50% nos próximos dez anos. “Hoje, um terço do valor de cada sorvete vendido é imposto”, alerta Eckhardt.

Alta vs. Baixa Qualidade: O impacto no mercado artesanal

O comparativo entre sorvetes artesanais de alta e baixa qualidade destaca a importância de uma legislação que regule esses produtos. Sorvetes artesanais de alta qualidade utilizam ingredientes frescos e naturais, com o mínimo de aditivos químicos, permitindo um sabor genuíno e maior controle sobre a cadeia produtiva. Esses produtos são elaborados por pequenos produtores que valorizam a autenticidade e a relação com o terroir local, como é o caso de Gabriel Santin, dono da Santin Gelatos Artesanais em Ubatuba, que já conta com três lojas na cidade. “Estamos vendendo um ótimo produto, um alimento com controle total da cadeia produtiva, e o consumidor está percebendo isso”, explica Gabriel.

Já os produtos de baixa qualidade, muitas vezes vendidos como “artesanais”, mas feitos com essências artificiais, emulsificantes e corantes, comprometem a confiança do consumidor e prejudicam o crescimento sustentável do mercado. “Vende-se um monte de sorvetes como se fossem iguais, mas não são. O consumidor é quem está sendo enganado”, aponta Santin.

No Norte do país, sorveteiros como Brunna Valeska e Telma Naomi Endo, da Umami Sorvetes Artesanais de Belém, no Pará, têm investido em opções mais saudáveis e regionais, refletindo uma tendência global. “O público hoje busca opções veganas e com menos açúcar, e nossos sabores regionais como bacuri e açaí são cada vez mais procurados”, conta Brunna.

Para o Chef Francisco Sant’Ana, essas mudanças são sinais de que o mercado está caminhando para uma maturidade maior. “A onda dos sorvetes artificiais está chegando ao fim, e a tendência é que o consumidor busque cada vez mais por produtos autênticos e de qualidade”, conclui.