No Brasil, representante do governo Biden discute como usar comércio para punir violadores ambientais

No Brasil, representante do governo Biden discute como usar comércio para punir violadores ambientais

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) –

O governo Joe Biden espera que o Congresso norte-americano volte a tratar nessa nova legislatura dos projetos de lei que prevêem o impedimento de importação de produtos de áreas com desmatamento, disse nesta quarta-feira a representante de Comércio dos Estados Unidos, Katharine Tai.

Tai, que passou o dia em encontros com vários membros do governo brasileiro — incluindo o vice-presidente Geraldo Alckmin, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad –, deixou claro que é a decisão sobre as propostas é do Congresso, mas acrescentou que o governo Joe Biden está interessado em trabalhar com mecanismos de “incentivo e punição”.

“Esse tópico surgiu em minhas conversas no contexto de explorar alternativas, tanto com o governo brasileiro quanto com representantes da sociedade civil”, explicou em uma roda de conversa com jornalistas no final da quarta-feira.

“Como podemos usar ferramentas de comércio para promover os objetivos de sustentabilidade e também resiliência e inclusão. Nós estamos muito interessados nessa conversa sobre incentivos e penalidades”, disse.

Segundo a embaixadora, os projetos que foram apresentados no Congresso norte-americano são semelhantes à legislação aprovada pela União Europeia, mas não se pode dizer ainda quando e se serão aprovadas.

Tai foi perguntada também sobre medidas para conter o comércio internacional de ouro vindo do Brasil, que chega a diversos países, inclusive aos Estados Unidos, apesar de serem oriundos de garimpo ilegal.

A embaixadora admitiu que o assunto foi tratado nas conversa em Brasília, mas disse que não tinha ainda uma resposta. “É algo que vou levar para Washington para pensar a respeito. É algo que temos muito interesse em trabalhar com nossos parceiros”, disse.

A embaixadora disse que essa primeira viagem é ainda exploratória, dado que o novo governo tem menos de três meses, mas o governo de Joe Biden pretende se engajar em discussões contínuas para ampliar o comércio entre os dois países.

Grupos técnicos devem trabalhar para até o final do ano ter um rascunho de acordos para ampliar o comércio e a cooperação entre Brasil e Estados Unidos, disse.

Em 2022, as trocas comerciais entre os dois países alcançaram nível recorde, de cerca de 88 bilhões de dólares, 26% a mais que em 2021, com déficit para o Brasil de 14 bilhões de dólares.

Ao ser questionada sobre a influência da China na América Latina, que tem ocupado um espaço de comércio e investimento antes fortemente ligado aos Estados Unidos, Tai disse que o todos fazem comércio com o país asiático, inclusive os EUA, o que é uma oportunidade e um desafio.

Perguntada sobre o fato da China, maior parceira comercial do Brasil, ter aumentado sua participação com oferta de crédito, a embaixadora não apontou a possibilidade dos EUA fazerem o mesmo.

Segundo Tai, o que aproxima os EUA da região são as similaridades históricas e os valores, e defendeu, por exemplo, o investimento no desenvolvimento de cadeias de produção suplementares.

Tai é a segunda visita de alto escalão do governo norte-americano em pouco mais de dois meses de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na semana passada, esteve em Brasília o enviado especial para Mudanças Climáticas dos EUA, John Kerry. Ainda durante o período de transição, em dezembro de 2022, Lula recebeu também o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan. Lula fez uma visita oficial a Biden em fevereiro.

(Reportagem de Lisandra Paraguassu)

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