Os Jogos Europeus em 2015, um Grande Prêmio de Fórmula 1 anual desde 2016, jogos da Eurocopa-2020 e, nesta quarta-feira (29), a final da Liga Europa. O Azerbaijão multiplica eventos esportivos em seu território para tentar limpar sua imagem internacional.

Há uma década, este pequeno país de 10 milhões de habitantes no Cáucaso, com um solo rico em petróleo, aproveita esta benção econômica para fazer seu nome no mundo do esporte. E, com a final da Liga Europa na quarta-feira entre Arsenal e Chelsea, o Azerbaijão inaugura uma nova etapa.

“Cada um destes eventos reforça o lugar do Azerbaijão no mundo e cria as condições para aumentar o turismo”, defende à AFP o ministro dos Esportes do país, Azad Rahimov, feliz com os “83 milhões de espectadores” que assistiram ao GP de Baku de Fórmula 1 em 2018.

É também uma maneira do país, governado desde a queda da União Soviética pela família Aliev (Heydar primeiro, seu filho Ilham desde 2003), de maquiar as violações aos direitos humanos das quais é continuamente acusado.

“Precisamos garantir que o Azerbaijão não consiga ‘lavar’ seu terrível histórico de violação aos direitos humanos sob o pretexto da grande festa do futebol”, lembrou na semana passada Kate Allen, diretora da Anistia Internacional no Reino Unido, garantindo que “uma onda de repressão sinistra” estava tomando conta do país ultimamente.

O poder azeri também foi denunciado em 2017 pelo consórcio de jornalistas Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), que denunciou um gigantesco sistema de lavagem de dinheiro que envolvia a elite do país.

O primeiro sucesso do Azerbaijão nesta “diplomacia através do esporte” aconteceu em 2015, com a luxuosa organização dos Jogos Europeus. Apesar do modesto interesse esportivo e das poucas estrelas no evento, foi gasto mais de um bilhão de euros na organização.

A final da Liga Europa será disputada em um estádio para 68.000 espectadores construídos para os Jogos Europeus. É também o estádio que sediará em junho e julho de 2020 três jogos da fase de grupos e um das quartas de final da próxima Eurocopa de futebol.

– “Capricho” –

A aposta do Azerbaijão no esporte não se concentra apenas na organização de eventos. Socar, a empresa petrolífera nacional, é uma patrocinadora importante da Uefa desde 2013 e o slogan do país (‘Land of Fire’, ‘Terra de Fogo’ em inglês) foi estampado na camisa do Atlético de Madrid entre 2013 e 2015.

Estes investimentos não bastaram para evitar as polêmicas antes da final 100% inglesa em Baku. Há duas semanas da decisão, torcedores de Chelsea e Arsenal já reclamavam dos custos de locomoção e hospedagem para viajar e assistir ao jogo no Azerbaijão.

Levando em consideração a distância, a Uefa distribui apenas 12.000 ingressos aos clubes finalistas para serem vendidos aos torcedores ingleses, mesmo estes sendo conhecidos por viajarem em grandes números por toda a Europa a cada jogo de suas equipes.

O meia armênio do Arsenal Henrikh Mkhitaryan desistiu de viajar até Baku para participar da partida devido às difíceis relações diplomáticas entre seu país e o Azerbaijão.

Baku e Erevan brigam há três décadas pelo controle de Nagorno-Karabaj, uma região montanhosa reivindicada por ambos. Nos anos 1990, os países se enfrentaram em um confronto armado que deixou 30.000 mortos e, até hoje, nenhum tratado de paz foi assinado, o que ainda causa alguns conflitos.

Apesar das polêmicas, o Azerbaijão não irá parar de investir no esporte. “Os dirigentes dos países autoritários gostam de organizar eventos grandiosos em seus países. É um capricho”, critica a jornalista de oposição Khadija Ismailova, várias vezes condenada por suas investigações da corrupção no país.

O ministro dos Esportes, Azad Rahimov, prefere falar de “uma herança deixada para o povo”, mas o Azerbaijão precisou colocar em espera seu maior sonho, o de sediar os Jogos Olímpicos.

Derrotado em duas ocasiões, para os Jogos de 2016 (Rio de Janeiro) e de 2020 (Tóquio), Baku não se candidatou para os Jogos de 2024 e 2028, que serão sediados por Paris e Los Angeles.

eg-tbm/gmo/am