O aquecimento global pode levar a um aumento muito mais dramático do nível do mar do que as projeções atuais sugerem, disseram cientistas, citando um aumento de 10 metros durante o último intervalo do aquecimento da Terra, há mais de 100.000 anos.

Essa mudança ultrapassa muito as projeções atuais e pode ser catastrófica para vastas faixas da humanidade, concluiu uma equipe da Universidade Nacional Australiana em um estudo.

Durante o último período interglacial, “o nível dos mares subiu até três metros por século, excedendo muito o aumento de cerca de 0,3 metro observado nos últimos 150 anos”, disseram em um blog sobre suas descobertas, publicadas na quarta-feira na revista Nature Communications.

No último milhão de anos, a Terra alternou entre períodos frios de aproximadamente 100.000 anos – eras glaciais – e períodos mais curtos e temperados, como os últimos 11.500 anos, conhecidos como Holoceno.

Os cientistas relataram que durante o último período interglacial da Terra, há entre 125.000 e 118.000 anos atrás, quando as temperaturas eram apenas 1,0 grau Celsius mais altas do que hoje, o mar subiu 10 metros.

As descobertas não predizem necessariamente o nosso futuro a curto prazo, mas fornecem um análogo plausível para as consequências das mudanças climáticas provocadas pelo homem.

“As emissões de gases de efeito estufa nos últimos 200 anos causaram mudanças climáticas que são mais rápidas e mais extremas do que as experimentadas durante o último interglacial”, observaram os cientistas.

– Amostra do que está por vir –

“Isso significa que as taxas passadas de aumento do nível do mar fornecem apenas previsões baixas do que pode acontecer no futuro”.

Longe de ser um “gigante adormecido”, a Antártica é uma variável-chave na elevação do nível dos mares, com camadas de gelo que “podem mudar rapidamente”.

No último período interglacial, foi a perda de gelo na Antártica – como está acontecendo hoje – que mudou “a maneira como os oceanos da Terra circulavam”, acrescentaram.

“Isso causou aquecimento na região polar do norte e provocou o derretimento do gelo na Groenlândia”.

As camadas de gelo da Groenlândia e da Antártica Ocidental, em média, liberaram mais de 430 bilhões de toneladas de massa todos os anos desde 2005, de acordo com o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

De acordo com as estimativas atuais, o nível dos mares aumentará de 70 a 100 centímetros até 2100, dependendo das taxas de emissão de gases de efeito estufa nas próximas décadas.

Mas, em qualquer cenário, alertou o IPCC em um relatório divulgado em setembro, o ritmo do aumento do nível do mar crescerá acentuadamente ao longo do próximo século – de alguns milímetros por ano hoje para alguns centímetros.

“O que é impressionante no último período interglacial é o quão alto e rápido o nível do mar subiu acima dos níveis atuais”, disse a equipe da ANU.

“As temperaturas durante o último período interglacial eram semelhantes às projetadas para o futuro próximo, o que significa que o derretimento das camadas polares de gelo provavelmente afetará os níveis futuros do mar muito mais dramaticamente do que o previsto até o momento”.

Um ponto crucial é que o aquecimento e a perda de gelo agora estão acontecendo nas duas regiões polares ao mesmo tempo.

“Isso significa que, se as mudanças climáticas continuarem inalteradas, o dramático aumento do nível do mar do passado na Terra pode ser uma pequena amostra do que está por vir”, concluíram.

Os cientistas foram Eelco Rohling, professor de Oceano e Mudança Climática na ANU, Fiona Hibbert e Katherine Grant, bolsistas de pós-doutorado.