É de menino que se torce o pepino, versavam nossos avós quando um filho desrespeitava os pais. Ou se dava um corretivo nele ainda criancinha ou ele cresceria fazendo coisas erradas. Carlos Bolsonaro, o filho do meio do presidente, está mostrando que cresceu sem freios. Nos últimos dias, ele deflagrou uma nova crise envolvendo militares do governo, especialmente o general e vice-presidente, Hamilton Mourão, para quem o rebento apontou as baterias. Com Carluxo embebido em fúria, nem o próprio pai consegue pará-lo. O “02” parece incontrolável, fazendo de suas redes sociais uma metralhadora giratória contra o número 2 do País. O presidente Jair Bolsonaro até tentou falar com o garoto, como ele mesmo se refere ao vereador no Rio, para que ele cessasse a artilharia. Afinal, além de Mourão, as críticas incomodavam também os generais do Alto Comando. Mas Carlos submergiu. Ficou quatro dias sem atender ligações. Aquartelado num clube de tiro em Santa Catarina, local onde passou o feriadão de Páscoa, Carlos passou esse tempo todo incomunicável e de lá disparou oito mensagens no twitter contra Mourão, com ataques pesados, insinuando que ele trama para derrubar o pai. O presidente tentou contato com filho também para que ele lhe devolvesse a senha de seu twitter pessoal, mas o jovem se recusou a ceder aos seus apelos. Desde a campanha, e principalmente agora nos primeiros três meses de governo, Carlos é quem opera o twitter do pai e faz postagens em nome dele. Em razão do clima de guerra, o presidente desejava retomar o controle. O filho, no entanto, como um garoto mimado, insiste em manter o poder que lhe resta. Ninguém consegue segurar esse rapaz.

No íntimo, o que Carlos Bolsonaro quer é apear Mourão do governo. Tenta repetir o jogo rasteiro praticado contra o ex-ministro Gustavo Bebianno. Depois de chamá-lo de mentiroso, fez a cabeça do pai e forçou-o a demitir o ex-integrante do primeiro escalão. Só que, neste caso, há uma diferença crucial: Mourão foi eleito. É, portanto, indemissível. Além disso, os militares estão com ele. E bem irritados com Carluxo.

As teses conspiratórias contra Mourão ganharam força por meio de análises do filósofo Olavo de Carvalho, para quem o general se empenha em enfraquecer Jair Bolsonaro na tentativa de tomar seu lugar. Carlos comprou a tese. Em mensagens na internet, ele se refere ao vice como “esse tal Mourão” e aponta iniciativas que o colocam em rota de colisão com o pai. Os ataques do garoto começaram após a postagem de um vídeo de Olavo de Carvalho, no sábado de Aleluia, em que ele fustigava os militares no poder. Carvalho disse que a última contribuição das escolas militares foram as obras de Euclides da Cunha. “Os militares só fizeram cagada ao entregarem o país aos comunistas”, bateu o filósofo. Tomando as dores da corporação, Mourão disse que Olavo deveria se limitar a “astrólogo”, desencadeando a batalha que levou Carlos para a trincheira de frente.

Desrespeitou o pai

A fala de Olavo foi compartilhada no Youtube de Bolsonaro ainda no sábado e replicado no Twitter de Carlos. A gravação até foi retirada do ar, mas o estrago já estava feito. Virou um salseiro no meio militar, com alguns generais entendendo que o presidente estava respaldando as críticas do filósofo, responsável pela formulação política dos Bolsonaros. Para contornar o princípio de incêndio nas casernas, o porta-voz do presidente, o general Otávio Rêgo Barros, precisou fazer na terça-feira 23 um pronunciamento dizendo que o presidente desejava colocar um ponto final na polêmica e que não concordava com as críticas de Olavo. Não foi suficiente para Carlos sossegar. Pelo contrário, continuou a centrar fogo contra Mourão, como se desautorizasse o próprio pai.

Na quarta-feira 24, Carlos voltou a provocar o vice, lembrando que o general havia dito que o ex-deputado Jean Wyllys não deveria deixar o Brasil, pois o governo teria como defendê-lo. Carlos considerou que se tratava de uma postura desleal, pois Wyllys era desafeto do pai. Depois de dizer que a vice-presidência “caiu no colo de Mourão, algo que jamais plantou”, Carlos considerou “estranhíssimo seu alinhamento com políticos que detestam o presidente”. As críticas de Carluxo, que alçam o vice a traidor, revoltaram o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Um dos principais conselheiros de Bolsonaro, Heleno chegou a dizer ao presidente que o comportamento beligerante do rebento ameaçava a governabilidade. Bolsonaro, que não costuma gostar de interferências na relação com a família, aquiesceu. Falta apenas o “02” parar de ser uma fonte inesgotável de problemas. Ou seja, falta tudo.

DESCONFIANÇA Ao não contê-lo, Bolsonaro parece concordar com o filho do meio (Crédito:SERGIO LIMA)

Ataques do “02” ao “2” do país

“Caiu no colo de Mourão algo que jamais plantou. Estranhíssimo seu alinhamento com políticos que detestam o Presidente”

“Vice contraria ministros e agenda que elegeu Bolsonaro presidente. Vamos acabar com essa controvérsia e entender qual é a do tal Mourão”

“Naquele fatídico dia em que meu pai foi esfaqueado por ex-integrante do PSOL e o tal de Mourão em uma de suas falas disse que aquilo tudo era vitimização”

“Lembro que não estou reclamando do vice só agora e tals…são apenas informações!”