O diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, disse que “ninguém sabe” o que ocorrerá com o comércio mundial e com a União Europeia (UE) se o Reino Unido sair do bloco econômico, o chamado Brexit. No próximo dia 23, ocorrerá o referendo que decidirá se o país europeu deixará ou não o bloco.

“Vai depender das condições de negociação que, a meu ver, terão que acontecer com todos os membros da OMC, com todos aqueles que a União Europeia tem preferência tarifária, e ninguém ainda sabe o resultado disso. É muito difícil mensurar o impacto para o Reino Unido, para as outras economias parceiras do Reino Unidos, inclusive o Brasil. Lamentavelmente não há uma resposta muito óbvia”, declarou a jornalistas, após participação no “Brazil Business Day”, evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela International Chamber of Commerce (ICC).

China

Questionado sobre o reconhecimento da China como economia de mercado – o protocolo de acessão da China à OMC, que foi firmado em 11 de dezembro de 2001, vence neste ano e os países-membros do órgão estão discutindo se todos são obrigados a adotar o reconhecimento -, Azevêdo comentou que é um tema importante, que está sendo debatido em todas as capitais e setores e, aqui no Brasil, a preocupação maior é do setor siderúrgico. “Não posso dizer qual é a interpretação que está no protocolo, mas ele não é uma frase apenas. É um problema político, não é técnico e nem questão legal. Se é importante para vocês, é relevante para a China e com certeza não será tratado como técnico por ela”, destacou.

A autoridade informou que teve reunião com o ministro das Relações Exteriores (MRE), José Serra, e com o Ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira, e sobre esse assunto disse que “eles têm a perfeita consciência da sensibilidade política do tema”.

Em 2005, o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, assinou um decreto no qual o Brasil se compromete em cumprir o protocolo “tão inteiramente como nele se contém.” Mas o Brasil ainda não resolveu se irá ou não fazer o reconhecimento da China como economia de mercado.

“E vocês têm um tempinho aí para pensar. Mas não me incluam nessa, me deixem de fora dessa”, brincou com os jornalistas, mostrando a postura neutra que a OMC tem sobre o assunto. “A OMC é um caso de uma ONG que não pensa. Quem pensa são os membros e eles que decidirão. A OMC apenas tomará decisão se algum país ou a própria China não concordarem em ações antidumping se ela for reconhecida”, falou.

Debate do comércio global

Um pouco antes de participar do evento, Azevêdo falou rapidamente com o Broadcast (serviço de notícias em tempo real da Agência Estado) e comentou que acha muito positivo que o comércio global esteja sendo debatido no País. “Não é uma conversa fácil, porque inserção no comércio internacional passa por um debate de competitividade, que tem vários elementos diferentes. Mas, por muito tempo o comércio exterior no Brasil era como se fosse o Plano B, C, D. O objetivo era o mercado doméstico e se der, se sobrar alguma coisa, vamos exportar. É claro que isso não era de maneira genérica, tem exceções e setor agrícola claramente é uma exceção. Mas o fato de se estar falando como estratégia de desenvolvimento econômico é muito positivo”, declarou.

Na palestra, o diretor-geral da OMC ressaltou que o comércio exterior precisa fazer parte das estratégias das empresas brasileiras e do País e que é relevante que o Brasil busque avançar em vendas externas em várias frentes, que é o mais comum. Além disso, disse que o setor privado precisa ajudar os governos a buscarem mais negócios no mercado internacional. “Eu já fui negociador. Negociador é um animal muito riste, raramente não tem feedback do setor privado. Precisamos que o setor privado alimente os negociadores de demanda, de retorno”, ressaltou.

Azevêdo ainda destacou o acordo de facilitação de comércio que já conta com a ratificação de mais de 80 países-membros, mas que é necessária a adesão de mais de dois terços do total de 162 membros do órgão. O Brasil fez a ratificação em março, o que, conforme ele, representa uma decisão de facilitar a inserção do País no mercado internacional.

Sobre as projeções da OMC sobre o comércio global, Azevêdo disse que elas foram revisadas pelo impacto da desaceleração da economia internacional. “Não voltará ao patamar pré-crise, mas claramente estamos muito abaixo do potencial que temos. Não podemos ficar de braços cruzados, tem muito a se fazer”, declarou.