Fã declarado de Donald Trump, cuja posse foi acompanhar emocionado há duas semanas em Washington, Nikolas Ferreira tentou não se posicionar sobre as violações de direitos humanos nas recentes deportações de brasileiros — muitos deles mineiros — pelo governo do republicano. No sábado, 1º, quando Nikolas deu uma entrevista no estúdio do Platô BR no Congresso Nacional, perguntei o que ele tinha a dizer ao eleitor mineiro sobre a postura do governo americano.
Brasileiros deportados pelos EUA chegam algemados há tempos, uma decisão americana da qual o Brasil discorda há anos, mas que não tem como alterar. Agora que Trump abriu uma caçada aos imigrantes, a situação ficou mais grave — algo previsível em um governo cuja secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, disse que imigrantes são “sacos de lixo”.
No último voo a pousar no Brasil, as algemas nas mãos e nos pés foram a face pública de um conjunto de indignidades a que os passageiros foram submetidos. O voo trazia 158 pessoas, sendo 88 brasileiros, em uma aeronave sem condições de transportar seres humanos. O trajeto da Louisiana até Belo Horizonte duraria cerca de 12 horas, não fosse um problema técnico que obrigou um pouso em Manaus. A aeronave da empresa GlobalX, contratada pelos EUA, estava com o ar-condicionado quebrado, e os passageiros tiveram o acesso ao banheiro dificultado. Ao chegarem aqui, relataram agressões por parte dos agentes da imigração americana — queixas comuns entre diversos estrangeiros capturados pela temida ICE (Immigration and Customs Enforcement).
Nikolas não criticou as deportações nem queria se posicionar sobre as violações de direitos humanos. Após minha insistência para que comentasse o sofrimento dos mineiros deportados tal qual gado, ele criticou as condições indignas e as agressões, mas fez a ressalva de que só as condenaria diante da confirmação de que, de fato, ocorreram. Ora, os passageiros mostraram as marcas das pancadas. O chefe da Embaixada dos EUA em Brasília foi ao Itamaraty explicar a má condição técnica do avião. Há, claro, provas suficientes.
“Se isso estiver acontecendo, tem que ser sanado. Não sou deputado dos Estados Unidos, sou deputado do Brasil, não consigo interferir nisso. Admirar uma pessoa não quer dizer que você concorda com tudo o que ela faz, nem que deve concordar com toda ação que ela toma”, disse Nikolas. “Não vou descartar tudo o que a pessoa representa por conta de erros. É um erro, obviamente grave, no que diz respeito à violação de direitos humanos”, completou.
Na entrevista, o deputado do PL também foi questionado sobre suas preferências para as eleições em Minas em 2026. Com dois aliados como pré-candidatos — o senador Cleitinho, do Republicanos, e o vice-governador Mateus Simões, do Novo —, Nikolas não quis se posicionar e disse que a decisão sobre apoios caberá a um grupo político em que a palavra de Jair Bolsonaro será determinante.
Classificou Cleitinho como “amigo”. Disse que Simões é um nome “capacitado”, mas pontuou que há resistência ao atual vice-governador “na segurança pública” — uma referência ao acordo salarial que policiais acusam Simões de não ter cumprido. O emcimadomurismo de Nikolas foi tanto que até Rodrigo Pacheco, virtual candidato de Lula ao governo de Minas, foi elogiado. Disse que Pacheco é “extremamente inteligente e capacitado no âmbito do direito”, mas afirmou que “os mineiros” se decepcionaram com as posições do senador à frente do Congresso Nacional — a decepção, na verdade, veio de quem elegeu Pacheco ao Senado por sua atuação na oposição a Dilma Rousseff e não gostou de vê-lo brecando as intentonas golpistas de Bolsonaro.