Algumas situações explicitam dramaticamente o tamanho de nossas misérias – sim, no plural, pois são muitas e variadas. A precariedade geral e, em alguns casos, a completa ausência de saneamento básico, por exemplo, corrobora os índices de mortalidade infantil, deficiência no aprendizado escolar e proliferação de doenças como a dengue.

No campo da criminalidade, a impunidade atirada nas fuças da sociedade, diuturnamente, via a falta ou o retardo de justiça, serve como estímulo para a perpetuação de assassinatos e corrupção, afinal, ou os crimes não são devidamente apurados, processados e resolvidos, ou simplesmente os processam se arrastam por décadas até a prescrição.

CADA VEZ PIOR

A política brasileira pode não ser a pior do planeta, mas certamente encontra-se nos piores lugares de qualquer ranking sério. Poucos governos (em todas as esferas e Poderes), mundo afora, são tão perversamente organizados em torno de si mesmo, às custas – e contra – a população que lhes sustenta como o Estado brasileiro.

O Brasil é pródigo em sempre encontrar um alçapão no fundo do poço. Por aqui, a máxima “nada está tão ruim que não possa piorar” é praticada à perfeição. A notícia de que o deputado federal mineiro, Nikolas Ferreira, foi eleito presidente da Comissão de Educação da Câmara, apenas corrobora o ditado e avaliza minha opinião.

REACIONARISMO

Não bastasse a completa ignorância e inexperiência de gestão desse rapaz, em qualquer atividade produtiva deste mundo, bem como a ausência de quaisquer projetos ou realizações no campo da própria política, pesa contra o animador de auditório – travestido de parlamentar – seu comportamento costumeiramente baixo, grotesco e reacionário.

Este moço ataca, com relativa frequência, as mulheres, os homossexuais e as pessoas trans. Ataca, também, nas horas vagas, pessoas obesas. Tudo o que se move em sentido diferente do seu, e nem precisa ser oposto, basta ser, digamos, oblíquo, torna-se alvo de suas ofensas, profundas como um pires raso, porém adornadas ao modelo TikTok.

ASSIM É O BRASIL

Deputado federal mais votado do Brasil – o que valida minha percepção sobre nossas misérias -, Nikolas jamais deveria ocupar uma posição que o permita influir na Educação nacional. A depender deste sujeito, boa parte dos brasileiros serão excluídos das escolas, no mínimo, senão exilados em locais distantes de brancos, heteros, evagélicos e de direita.

Se é fato que o extremista representa grande estrato da sociedade brasileira, e que seu partido detém a maior bancada da Câmara – o que lhe faculta a indicação dos presidentes das principais comissões -, é fato também que um mínimo de critério, decoro, racionalidade e responsabilidade deveria orientar escolhas tão desastrosas como essa.

ENCERRO

Cobrar tais atributos de uma legenda que abriga (nada mais, nada menos) que Jair Bolsonaro, e que tem como “dono” Valdemar Costa Neto, é, eu sei, esperar que torresmo com coca-cola não aumente alguns centímetros de minha já roliça região abdominal. Mas, aqui, não cobro nada. Apenas chamo a atenção para a falta de todos estes atributos.

Nikolas Ferreira representa não apenas o que há de pior na política, mas o que há de pior no ser humano. Se de fato chegar a presidir a Comissão de Educação da Câmara, podemos esperar ainda mais retrocesso em uma área que já representa, como poucas, a tal miséria que citei no início deste texto. Como eu disse, o Brasil não encontra o fim do poço, nunca.