As revoluções digitais na área cultural são tantas e tão rápidas que é preciso atenção redobrada para compreendê-las. A mais nova atende pelo nome de “NFT”, sigla para a expressão “Non-Fungible Token”. De maneira simplificada, funciona assim: imagine que existem milhões de reproduções da Mona Lisa, mas apenas um quadro original. No caso da arte digital isso é ainda mais comum, mas agora há um certificado que garante que determinado arquivo é “NFT”, ou seja, uma obra única e original. Colecionadores podem comprá-las dos artistas ou galerias virtuais e vendê-las a terceiros, pagando em criptomoedas como Bitcoin e Ethereum. Isso pode se aplicar a uma música, um desenho ou até mesmo um meme, aquelas piadinhas que circulam pela internet. No exterior, bandas como Kings of Leon já utilizam o recurso. Por aqui, o primeiro brasileiro a comercializar NFTs foi o músico André Abujamra, que se aliou ao artista plástico Uno de Oliveira para criar obras híbridas que incluem músicas e imagens digitais. “Me sinto um viking desbravando novos mares”, afirma Abujamra. “Vendendo arquivos de músicas com apenas 80 segundos de duração, lucrei mais em duas semanas do que a vida inteira com as bandas Mulheres Negras e Karnak.”

Um mercado promissor

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A novidade é uma alternativa para milhões de artistas que ficaram sem rendimento com a pandemia – principalmente os músicos, que têm de sobreviver das migalhas pagas pelas plataformas de streaming, empresas que embolsam a maior parte dos lucros e deixam os verdadeiros responsáveis pelas criações a ver navios. A parceria de Abujamra e Uno rendeu obras como “Mãedágua” e “Coélhék” (foto). “As músicas do meu álbum “Emidoinã – A Alma de Fogo” foram ouvidas mais de 150 mil vezes no streaming e ganhei poucos centavos Uma obra NFT de 40 segundos me rendeu US$ 800”, diz Abujamra.