Ney Matogrosso fala sobre Aids e relação com Marco de Maria: ‘Um preconceito enorme’

Músico falou sobre assunto em bate-papo com a imprensa em coletiva nesta quarta-feira, 23

Sofia Magalhães
Cinebiografia estreia em maio Foto: Sofia Magalhães

“Ler é uma coisa, você ver é outra”, contou Ney Matogrosso sobre sua cinebiografia “Homem com H”, que estreia em 1º de maio. Em um bate-papo com a imprensa nessa quarta-feira, 23, o ícone da música brasileira não escondeu a emoção de ter sua vida contada no cinema, sem nenhum pudor.

Estrelado por Jesuíta Barbosa, o filme mostra a trajetória de Ney sem esconder nada – desde a infância rígida com o pai militar, sua passagem no Secos & Molhados até a sua relações com alguns de seus grandes amores, Marco de Maria e Cazuza.

“A primeira conversa que eu tive com o Esmir, eu falei: ‘As pessoas falam muita coisa sobre mim que são mentira, não podemos ter mentiras’. E acho que tudo que está no filme foi verdade, sem nenhum pudor de falar sobre minha relação com meu pai, meus amores”, aponta o músico.

Durante a conversa, o diretor da obra, Esmir Filho — de “Alguma Coisa Assim”— explicou que a história de vida do cantor se cruza com o tipo de crônicas que gosta de retratar no cinema. Em uma grande parceria, os dois decidiram “compartilhar” o desenvolvimento do roteiro: das 17 versões do script, o biografado conferiu 12. Ney chegou a acompanhar três dias de filmagem e conta que ficou impressionado com o trabalho de toda a equipe.

“Olha, tem três livros, mas você ler é uma coisa, você ver é outra. Eu passei por isso. Quando eu vi a primeira vez, eu fiquei muito impactado. E eu não esperava, porque eu sou muito durão, sabe? Mas, a primeira vez eu cambaleei.”

O músico também falou abertamente sobre suas antigas paixões durante os anos 1980 e 1990 e a reação mundial com o HIV. “Eu me descontrolei duas vezes com esse filme. Era uma cena de eu chegando para o Marco, ele doente, com a Aids, e eu chegar com o meu teste negativo. Eles eram tão convincentes que eu tive uma coisa assim, sabe?”.

“As pessoas não deixavam eu entrar no elevador com ele, quando eu ia levar ele no médico, porque viam que ele estava doente e as pessoas não permitiam que eu entrasse no elevador com ele. Era um preconceito enorme. Uma desinformação também. Mas, nós passamos por vários momentos, assim, muito, muito dolorosos.”

“Essa doença não existe mais no mundo como ela existia. Quer dizer, que era uma peste mesmo. Uma peste negra, mais que negra. Isso acabou. Hoje em dia, a saúde pública oferece muitos remédios para não pegarem Aids no dia seguinte, tem um avanço.”

Jesu-ney 

Jesuíta Barbosa, dono de personagens como “Jove” em “Pantanal” e Fininho em “Tatuagem”, explicou que se encontrou com Ney diversas vezes para estudar sua movimentação e gestual, mas que sua interpretação do cantor também partiu de uma força própria.

Em determinado momento das filmagens, a produtora do longa, Verônica Stumpf, contou que o ator estava tão imerso na história que a equipe passou, inclusive, a se referir a ele como “Jesu-ney”.

“A gente entrava na sala da produção, o filme todo na parede, os figurinos, as provas de figurino. E, Jesuíta, esse processo foi muito incrível, porque, realmente, as primeiras provas eram um Jesuíta, e mais perto já da gravação, já era o Jesu-ney”, brinca.

Ao todo, ele passou por três meses de preparação de corpo, voz e canto e chegou a perder 12 quilos – na época, Ney pesava 53 kg -. “Para mim, foi uma alegria. Eu pude entrar nesse universo do Ney, pensar músicas, pensar os shows, tentar ganhar uma estrutura diferente da minha, que tem uma movimentação mais staccata, e o Ney tem algo arredondado”, conta Jesuíta.

** Estagiária sob supervisão