Plataforma de streaming cogita limitar compartilhamento de contas e divulgar anúncios publicitários, após perder 200 mil usuários no 1º trimestre de 2022. Ações da empresa perdem um terço do valor.A queda acentuada no número de assinantes fez com que plataforma de streaming Netflix passasse a considerar mudanças que há muito vinha tentando evitar: limitar o compartilhamento de senhas e criar planos de assinaturas a preços mais baixos, que incluam anúncios.

As possíveis mudanças, anunciadas na noite de terça-feira (19/04), seriam uma tentativa de fazer com que o serviço volte a ganhar força, após a empresa perder impulso em 2021, na sequência do crescimento observado durante a pandemia de covid-19, e depois que concorrentes de peso como a Apple e a Disney passaram a investir em seus próprios serviços de streaming.

Segundo um relatório da empresa, a base de assinantes da Netflix diminuiu em 200 mil no primeiro trimestre de 2022. Foi a primeira retração registrada pela plataforma desde que passou a ser disponibilizada em praticamente todo o mundo – exceto a China – há seis anos.

A queda tem origem, em parte, na decisão da empresa de deixar o mercado da Rússia em protesto contra a guerra na Ucrânia, o que resultou na perda de 700 mil assinantes. A Netflix já projeta para o segundo trimestre de 2022 a perda de mais dois milhões de assinaturas.

Essa queda, após um ano de um crescimento progressivamente mais lento, gerou preocupações nos investidores. As ações despencaram mais de 25% no horário estendido dos mercados, na noite de terça-feira, após o Netflix divulgar o relatório com a performance frustrante no primeiro trimestre.

Auge na pandemia

Nesta quarta-feira, a Netflix Inc. já vinha perdendo um terço de seu valor de mercado. Em Wall Street, o valor das ações da empresa caiu 37%, e caminhava para o seu pior dia em quase 18 anos de história.

Os números atuais revelam um amplo contraste com a situação da empresa há pouco mais de dois anos.

Os lockdowns impostos em vários países durante a pandemia foram bastante benéficos para a Netflix. Em 2020, a empresa ganhou 36 milhões de novos assinantes, o maior crescimento anual registrado desde a criação da plataforma de streaming em 2007, quando ainda era oferecida gratuitamente, de maneira complementar ao serviço de locação de DVDs pelos correios, nos Estados Unidos.

A plataforma, com sede em Los Gatos, na Califórnia, estima que 100 milhões de domicílios em todo o mudo estejam acessando o serviço gratuitamente por meio de contas de amigos ou parentes, incluindo 30 milhões de pessoas nos Estados Unidos e no Canadá.

“Estes são 100 milhões de domicílios que já optaram por assistir a Netflix”, disse o CEO da empresa, Reed Hastings. “Temos somente que sermos pagos por eles de alguma forma.”

Compartilhamento de contas

Para atrair um número maior de pagantes, a plataforma sinalizou que irá expandir um programa experimental em andamento no Chile, Costa Rica e Peru. Nesses países, os assinantes podem ampliar o acesso a um segundo domicílio por um preço mais baixo.

Na Costa Rica, por exemplo, o preço de um plano da Netflix varia entre 9 e 15 dólares por mês (em torno de 41 e 69 reais), mas os usuários podem compartilhar sua conta com outra residência por três dólares mensais.

A plataforma não forneceu maiores informações sobre a possível criação de um serviço a custos mais baixos com a inclusão de anúncios. Um de seus rivais, a Hulu, já oferece essa possibilidade a seus assinantes há muito tempo.

A empresa acredita que a medida poderá ajudar a aumentar sua base de clientes, de 221,6 milhões de assinantes, mas, em contrapartida, arrisca excluir muitos usuários, o que poderia resultar no cancelamento de assinaturas.

rc/bl (AP, Reuters)