Na curta história do Estado de Israel, Benjamin Netanyahu, de 70 anos, se tornou no país o político que mais vezes ocupou o cargo de primeiro-ministro. Com sua quinta vitória eleitoral na terça-feira 9, a quarta consecutiva, ele superou o fundador da nação, David Ben-Gurion (1886-1973). Nem por isso sua vida será fácil. O resultado foi apertado e há contra ele suspeitas de corrupção e de crimes eleitorais, além do risco de não poder cumprir as promessas feitas aos ortodoxos.

DERROTADO O candidato moderado Beni Gantz reconheceu
a derrota por poucos votos nas eleições parlamentares, na tarde de quarta-feira 10: sua coalizão promete atormentar o novo governo

No campo político, o partido de Netanyahu, o conservador Likud, obteve 35 cadeiras no Knesset (parlamento), o mesmo número da coalizão adversária Kavol Lavan, do moderado Beni Gantz, 59 anos. A vantagem de Netanyahu está na capacidade de forjar alianças do centro à extrema direita, o que lhe daria, na assembleia, a folga de 65 votos contra 55.

O que pode dificultar esta costura é o fato de a campanha não ter mostrado tanta lisura. O Comitê Eleitoral apresentou uma queixa contra o Likud por ter instalado 1,2 mil câmeras ocultas nas zonas eleitorais, principalmente em bairros árabes. Parte dos equipamentos foi apreendida antes da chegada dos eleitores. Segundo a juíza Hana Melcer, câmeras só podem ser usadas para acompanhar as apurações, desde que liberadas pela Justiça. O Likud alegou que tentou evitar fraudes. Soou como pressão ao eleitor.

Ao perceber que corria risco, Netanyahu passou a descrever Gantz como um socialista irresponsável, enquanto se colocava como virtual perdedor: “Se vocês querem que eu continue, votem antes de ir à praia”. Como em 2015, ele se aproveitou do desânimo dos moderados. Dos 6,3 milhões de eleitores, 4 milhões foram às urnas. Abstenção de 35,5%, contra 28% no pleito anterior. Já Gantz comparou o adversário com o presidente turco Recep Erdogan. Alguém que colocaria “polícia, juízes e imprensa sob seu controle”.

“Um bom sinal para a paz” Donald Trump, presidente dos EUA

Agora o primeiro-ministro reeleito precisa negociar. Em um sistema parlamentarista repleto de pequenos partidos que demandam coalizões complexas, ganhar o pleito é só o início. O castigo para quem não conduz bem esses acordos é a renúncia e novas eleições. Netanyahu só conseguirá se manter se agradar ultraortodoxos, sionistas e ultranacionalistas, que somam 26 votos. Os ortodoxos formam 10% da população e têm benefícios para manter famílias numerosas e viver nos territórios ocupados. Os que se devotam à religião nem precisam servir às forças armadas.

O futuro de Israel depende tanto desse equilíbrio instável como de fatores externos. Nos anos anteriores, Likud e aliados se aproveitaram do excelente desempenho econômico. Mas o FMI e o Banco Mundial alertam para o crescimento da dívida pública e pedem cortes nos gastos. Na política internacional, a aliança com os EUA pode mudar com uma derrota do presidente Donald Trump na próxima eleição.

“Disseram não à paz e sim à ocupação” Saeb Erekat, secretário-geral da OLP (Crédito:Divulgação)

 

Se cumprir as promessas, Netanyahu deve conflagrar mais a região. Na campanha, anunciou que ocupará parte da Faixa de Gaza. “Ele sepulta a possibilidade de existência de um estado palestino”, diz o analista Leandro Cosentino. Outro problema é a proposta de retirada dos direitos políticos de árabes e palestinos residentes, o que criaria um apartheid em um país nascido para abrigar minoria religiosa perseguida. Talvez isso represente o fim do estado palestino.