Depois de 16 meses de uma crise política sem precedentes na história de Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu ex-adversário nas urnas Benny Gantz concordaram nesta segunda-feira (20) em formar um governo de unidade no meio da pandemia da COVID-19.

O anúncio veio da residência oficial do primeiro-ministro para grande alívio de muitos israelenses, que temiam realizar uma quarta eleição para resolver a pior crise política da história do Estado hebraico.

Depois de três eleições legislativas em um ano, com reviravoltas inesperadas e às vezes desesperadas para alguns israelenses, Netanyahu e Gantz se reuniram pouco antes do início de Yom Hashoah, o “dia do Holocausto”, que acontece entre o pôr do sol desta segunda-feira e a noite de terça em Israel.

Esse encontro tinha como objetivo selar a união entre os dois rivais políticos após inúmeras tentativas frustradas.

Milhares de israelenses, respeitando o distanciamento social, se manifestaram no domingo em Tel Aviv, na esperança de impedir uma aliança entre os dois políticos.

“Um acordo para a formação de um governo nacional de emergência foi assinado” por Netanyahu, chefe do Likud, e Gantz, líder do partido Azul e Branco, relataram ambas as formações em um comunicado.

Seu pacto de três anos prevê a constituição de um governo “bipartite”, com Netanyahu como primeiro-ministro por 18 meses e Gantz nos 18 meses seguintes, além de um número igual de ministros dos dois campos e a possibilidade de outras partes se juntarem para tirar o país da crise.

Os palestinos foram rápidos em reagir e condenaram o novo governo de “pró-anexação” de Israel.

“A formação de um governo israelense de anexação marca o fim da solução de dois Estados e o desmantelamento dos direitos do povo palestino”, reagiu o primeiro-ministro palestino, Mohammed Shtayyeh, pelo Twitter.

– COVID-19 ou anexação? –

Nas eleições de 2 de março, o Likud de Netanyahu, primeiro-ministro de Israel e uma velha raposa política, foi o vencedor com 36 representantes no Parlamento, mas não conseguiu conquistar a maioria com seus radicais aliados de direita e partidos ultra-ortodoxos.

Nessa situação, os parlamentares recomendaram ao presidente Reuven Rivlin indicar Benny Gantz, ex-chefe do estado-maior do Exército, para comandar a coalizão centrista branca e azul.

Incapaz de adicionar a maioria neste momento em que o país está enfrentando a crise do novo coronavírus, Gantz surpreendeu ao abrir a porta a um governo de “unidade e emergência” com Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção em uma série de casos, anulando sua promessa de não compartilhar o poder com o atual primeiro-ministro, enquanto ele não resolve seus problemas com a Justiça.

Muitos israelenses esperavam esse acordo, mas outros, mesmo dentro de seu partido, censuraram Gantz por dar um giro de 180 graus em suas promessas de campanha.

Mas as negociações entre os dois campos, que fracassaram na semana passada, aumentando o medo de uma quarta eleição, finalmente avançaram.

Segundo o acordo alcançado, as duas partes estabelecerão um governo de emergência para combater o coronavírus, que já deixou 13.000 infectados no país e 170 mortos, e suas consequências na economia, como o desemprego, que disparou nas últimas semanas, apesar do bom desempenho antes da pandemia.

O principal negociador de Netanyahu, Yariv Levin, disse que este governo também visa a executar a “soberania” de Israel nas colônias “Judeia e Samaria”, expressão usada para evocar a anexação dos territórios ocupados na Cisjordânia desde 1967 pelo Estado hebraico.