Benjamin Netanyahu foi encarregado, nesta quarta-feira, de formar o próximo governo israelense, em um contexto de problemas judiciais para o primeiro-ministro e da provável iniciativa americana para resolver o conflito com os palestinos.

O presidente Reuven Rivlin anunciou, em cerimônia oficial, que, após consultar todos os partidos com representação parlamentar, uma maioria de 65 deputados dos 120 da Câmara “recomendaram” o político conservador para dirigir o governo.

Seu principal adversário, Benny Gantz, líder da lista de centro-direita Azul e Branca que conquistou 35 cadeiras, não está em condições de obter o apoio de uma maioria dos deputados.

A hipótese mais provável é que Netanyahu liderará uma coalizão governamental de partidos de direita, mais ou menos extremistas e religiosos, e de partidos ultra-ortodoxos, que propõem um respeito estrito às regras do judaísmo.

Se conseguir, Netanyahu, de 69 anos, figura dominante da política israelense a ponto de parecer invencível, começará seu quinto mandato.

Ele está no poder ininterruptamente desde 2009 e totaliza 13 anos, se contabilizado seu mandato anterior, entre 1996 e 1999, o que excederia o recorde de longevidade de David Ben Gurion, pai fundador do Estado de Israel.

– Um primeiro-ministro de todos –

“Eu serei o primeiro-ministro de todos”, prometeu na terça-feira à noite, usando um tom unificador, durante uma reunião com militantes de seu partido, o Likud.

Nesse mesmo dia, o líder de outro partido israelense expressou um apoio possivelmente decisivo para Benjamin Netanyahu permanecer em sua posição como primeiro-ministro.

Avigdor Lieberman, chefe do partido nacionalista e laico Israel Beiteinou anunciou, no entanto, pré-condições que poderiam complicar o trabalho de Netanyahu.

Lieberman apresentou uma condição, quase a título de ultimato, de adotar uma lei sobre o serviço militar dos ultraortodoxos, como proposto quando era ministro da Defesa no governo anterior.

Esta lei anularia a isenção sistemática do serviço militar que beneficia dezenas de milhares de estudantes de escolas talmúdicas.

Uma grande parte da população considera que esta isenção é injusta. Em contrapartida, essa questão é uma linha vermelha para os partidos ultra-ortodoxos, que representam 10% da população, e que não temem provocar novas eleições.

Os radicais da Direita Unida, uma aliança de partidos nacionalistas religiosos, exigem os ministérios da Educação e da Justiça, o que lhes abriria um amplo campo de ação ideológica.

Outra questão levantada é saber até que ponto os problemas judiciais de Netanyahu podem interferir nessas negociações políticas.

O procurador-geral anunciou em fevereiro sua intenção de indiciar Netanyahu por corrupção, fraude e quebra de confiança em três casos diferentes. Netanyahu afirma ser inocente.

– Anexação?-

Um de seus potenciais aliados, Bezalel Smotrich, declarou-se abertamente a favor de uma iniciativa legal para proteger um primeiro-ministro em exercício contra ações legais.

Esses casos alimentam especulações sobre uma moeda de troca que garantiria a Netanyahu que seus aliados não o abandonarão se ele for processado no exercício de suas funções.

Netanyahu afirmou durante sua campanha eleitoral que começaria a anexar os assentamentos israelenses na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel. Muitos membros de sua potencial maioria do governo apoiam essa anexação, pelo menos parcial.

Os primeiros passos do governo israelense também poderiam coincidir com a apresentação de um plano diplomático que há meses vem sendo preparado pela administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um grande aliado de Netanyahu.

Seu conteúdo é mantido em segredo. Os palestinos reiteraram várias vezes que não esperam nada positivo de um governo americano que, segundo eles, adotou uma atitude claramente parcial em favor de Israel.