A etapa desta terça-feira do Tour de France, teve muitas fugas, como o esperado, mas o tumulto aconteceu antes da transmissão na TV começar. Na maioria das etapas de uma grande volta, o começo é uma das melhores partes. Por isso, coloco na TV francesa e sofro com meu péssimo francês para entender o que está acontecendo. Até a formação da fuga, acontecem dezenas de ataques e até o pelotão se sentir confortável com quem está na fuga e parar de perseguir os líderes, ocorre um certo tempo. É preciso entender quem está na fuga, quanto de atraso cada um tem para o líder ou pela disputa de cada camisa. Quais equipes estão na briga, quais não estão.

E quando ocorre uma etapa como a de ontem, com final “fácil” e que seja a véspera de uma etapa duríssima como a desta quarta-feira, as equipes dos favoritos ao título preferem economizar as energias, pois existe poucas chances de e conseguir fazer diferença num ataque solo. É o velho custo e benefício.

A fuga acabou se formando e com pouco interesse dos favoritos pela camisa amarela e a diferença aumentou rapidamente para 10 minutos. Estava claro que a fuga ganharia a etapa, mas com vários nomes importantes, inclusive três deles da equipe Ineos, que não tem mais chance de titulo com Egan Bernal (quase 20m atrás do líder) e agora tentando salvar esse Tour com uma vitória de etapa.

O atual campeão do Giro de Itália, o equatoriano Richard Carapaz, foi o mais ativo na montanha faltando 25km para chegada. Ele disparou vários violentos ataques. O único que conseguiu se segurar foi o alemão Kamna, da Bora. O mesmo que perdeu dramaticamente na disputa da parede com o Martinez na etapa de sábado. A notícia ruim para Carapaz é que Kamna foi campeão mundial júnior de contrarrelógio e bronze sub-23. Ideal para o “falso circuito plano” de quase 10km. Por isso, o Kamna atacou quase no topo da montanha e emendou num contrarrelógio que o Carapaz simplesmente não tinha como recuperar.

Kanma conseguiu, finalmente, a sua tão sonhada vitória, que junto de sua equipe Bora, vinham coletivamente correndo tanto atrás do topo de uma etapa. Atrás, no pelotão, Tadej Pogacar mandou seus poucos gregários acelerarem para a última ladeira. Como disse anteriormente, era ladeira muito curta e pouco empinada para fazer alguma diferença, mas o esloveno da Emirates não quer nem saber. Tenta e tenta. Sua personalidade e atitude contrastam com sua cara de adolescente, mas vai ser entretenimento garantido por muitos anos pela frente.

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Etapa desta quarta-feira

O combo de montanhas col de la Madeleine (15,8km-8,1%) e col de la Loze(18,6km-7,7%) genuinamente são uma monstruosidade de etapa. Esta sendo esperado nessa etapa uma grande batalha entre os favoritos. Como sempre o começo será interessante. Até o sprint intermediário com 45,5km será o mesmo tema desde a punição do Sagan que o fes perder muitos pontos na semana passada. A sua equipe, Bora, tentando emboscar o líder da camisa verde Sam Bennett para que o Sagan tente sprintar sem que o irlandês da Quick Steps no mano-a-mano. Matteo Trentin, o terceiro colocado vem se aproveitando desse duelo e já está colado na pontuação do Sagan.

No começo da escalada do Madeleine, vamos ver alguns fazendo aquele “bloqueio” colocando toda a equipe alinhada na frente do pelotão para evitar a saída de vários ao mesmo tempo. Essa tentativa de bloqueio foi que causou a expulsão do T. Martin e L. Rowe no ano passado. Porém, com um ganho de 1.500m numa mesma montanha vai ser impossível segurar os ataques. Uma das montanhas mais duras utilizadas no Tour de France até hoje, mas que perde pelo que vem depois.

Além dos escaladores que tentarão ganhar a “etapa rainha” e de quebra ir para a pontuação da camisa de bolinha (a de melhor escalador), vários gregários dos favoritos tentarão se infiltrar na fuga para que eles possam estar à frente “descansados” e prontos para ajudar quando os ataques dos favoritos que vem atrás começarem a mostrar as garras. Durante a montanha inteira oportunistas e gregários tentarão atacar e esperar que conectem com a fuga na longa descida.

A equipe Jumbo não vai abrir mão do controle da etapa e continuará queimando gregários com ritmo forte para no mínimo queimar os gregários das outras equipes como no domingo.

Pronto! Está armado o cenário para a escalada da última montanha, a mais dura que um Tour de France pode ter sem sair da França. Sim, tirando a escalada do combo Telegraph-Galibier esta é a mais dura. É uma estrada que conecta as famosas cidades alpinas de Méribel e Courchevel. A parte final foi asfaltada recentemente e nunca foi utilizada.

A maior dificuldade vem nos últimos 5km quando sua inclinação média passa dos 10% até a chegada. É tão duro que mesmo se tirar esses 5km continua sendo um “categoria HC”, a mais difícil. Para quem chegar lá em primeiro, a pontuação pela disputa da camisa de bolinha além de ser máxima é dobrada. Nesse tipo de inclinação não adianta muito a ajuda dos gregários, pois a velocidade diminui bastante. É o paraíso dos escaladores natos e mesmo depois do ritmo duro da Jumbo os ataques virão com certeza!

Os primeiros provavelmente serão alguns daqueles que estão mais atrás no top 10. O ataque de Pogacar é inevitável, mesmo que ele exploda e acabe perdendo tempo para quem vem atrás. Ele está no seu primeiro Tour de France e tem 22 anos, ou seja, nem ele sabe quais os seus limites. Do 3º até 8º é que para mim está a verdadeira luta pelo último lugar ao pódio. Principalmente Landa e “Superman” Lopez. Eles terão que ir para o ataque, pois seus contrarrelógios não são confiáveis e no sábado provavelmente tomarão tempo dos outros top 10. Estão, nos seus territórios das altas montanhas e a altitude pode sim fazer diferença já que a chegada será a 2.302m de altitude.

Já quanto ao líder Roglic, caberá a ele apenas marcar seus adversários. Principalmente o Pogacar. Deverá ter o companheiro Kuss na parte mais dura caso precise de algo (ou mesmo da bicicleta). Acredito que sobreviverá aos ataques e no máximo perderá alguns segundos. Eu estava errado quanto ao Bernal e se tem algum lugar que algo pode dar errado para o Roglic será no la Loze.

É realmente uma pena que colombianos como Bernal e Quintana não estejam bem para um território que eles dominam. Escaladas muito longas com enorme ganho de altitude. Talvez o “Superman Lopez” defenda a pátria dos sul-americanos.

A superioridade da equipe Jumbo foi enorme até aqui, mas para usar uma analogia futebolística que todos entenderão: a Jumbo está com 80% de posse de bola e está ganhando só de 1 a 0. Ou seja, um corner, uma falta, uma bola mal atrasada e tudo foi em vão. Não acho que acontecerá, mas se tem algum lugar para acontecer será amanhã.


Amanhã será absolutamente imperdível!


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