Para o filósofo Vladimir Safatle, as raízes da crise institucional que o País vive hoje estão no modelo de governo aplicado na relação entre o Palácio do Planalto e o Congresso desde a redemocratização. Convidado para o painel “Novas Ideologias e Disputas Políticas”, do Brazil Forum UK, Safatle acredita que sucessivos governos falharam, desde 1985, em resolver contradições do chamado “presidencialismo de coalizão”, em que o presidente da República muitas vezes precisa conquistar, no Legislativo, apoio de partidos com ideologias opostas.

“Nessa tentativa de criar uma democracia, nós falhamos profundamente”, diz o filósofo sobre o período da Nova República, a partir da Constituição de 1988. Ele acredita que a estagnação do modelo fez crescer a insatisfação da sociedade com instituições do poder, até explodir em grandes manifestações em 2013. “A Nova República teve muito essa característica: a paralisia impedia que o Brasil tivesse grandes reformas, tanto para o bem quanto para o mal.”

O resultado é um cenário político em que “todos os atores políticos tradicionais do Brasil são questionados” e, nas eleições de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro consegue capitalizar esse sentimento em votos.

O filósofo foi acompanhado no painel pela governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), e a colunista do Estadão Vera Magalhães. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a confirmar presença no painel, mas disse que teve de ir a uma reunião de última hora e não participou. A maior parte das discussões foram sobre circunstâncias que facilitaram a vitória de Bolsonaro, do impeachment de Dilma Rousseff à Lava Jato.

“Ao longo desse processo, o que a gente tem visto é que foi se criando, cada vez mais, um caldo de ceticismo em relação à democracia”, disse a governadora, que vê no impedimento de Dilma o início do processo de crise entre instituições. Ela propôs que atores políticos se unam para a defesa de valores básicos. “É preciso, sim, ter clareza e responsabilidade de que nós precisamos nos unir em torno dessas bandeiras: a vida e a democracia.”

Vera Magalhães lembrou que os esforços para a construção de uma “frente ampla” em defesa da democracia tem esbarrado em ressentimentos. “Quando se tem discussão sobre se o (ex-juiz Sérgio) Moro pode entrar na frente ampla, se fulano pode, essa frente já não é ampla, é limitada”, disse Vera.

O Brasil Forum UK é promovido por estudantes brasileiros no Reino Unido e tem transmissão exclusiva do Estadão.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.