Lula e Bolsonaro se prepararam para o debate na noite deste domingo na Band – o site da ISTOÉ e suas mídias sociais, como o YouTube, também retransmitiram o evento ao vivo – como se estivessem em um ringue para a disputa mais importante das eleições. E foi fundamental, embora não tenha sido a luta final, pois ainda teremos duas semanas de campanha e o debate na Globo na véspera do pleito. Mas, o petista começou avassalador e deixou o presidente nas cordas várias vezes, quando tratou da pandemia como tema central e a omissão vergonhosa do presidente e seu governo negacionista.

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O capitão ficou minutos apanhando, com cruzados de esquerda – e até de direita –, golpes no fígado também, embora nenhum abaixo da linha de cintura. O mandatário tossia, se contorcia e não sabia o que fazer para sair das cordas. Sua boca secou e parecia liquidado.

O petista parecia confortável, sobretudo quando responsabilizava Bolsonaro pelas mortes por Covid no Brasil, razão pela qual já o classificou de genocida. Com sua capacidade de golpes certeiros, o petista lembrou dos casos dos crimes a ele atribuídos pela CPI da Covid, responsabilizando-o por “mais de 400 mil mortes”, por mais que o ex-presidente tenha se confundido várias vezes, e dito que o mandatário era culpado por “400 mortes”. Lula ganhou de longe.

No segundo round da luta, porém, Bolsonaro foi para o ataque, ou contra-ataque. Nesse bloco, o presidente quase nocauteou Lula com as acusações de corrupção na Lava Jato, que levaram o petista e seus amigos para a cadeia. Lula se embananou e chegou a dizer que a Lava Jato “prendeu quem roubou” e que “as pessoas confessaram” e que os que roubaram fizeram delação, etc., etc.

O petista estava tão confuso que nada falou dos escândalos no MEC, com dinheiro em Bíblias e dentro de pneus. Não mencionou a compra da mansão de R$ 6 milhões do filho, das rachadinhas. Ficou acuado. Parecia o debate de 1989 contra o Collor na Globo. Só no final ele veio a falar dos 51 imóveis comprados com dinheiro vivo.

Lula passou a sentir os golpes de um Bolsonaro treinado por Carluxo para encurralá-lo. O petista quase beijou a lona. Sem muita saída, o ex-presidente fez a ressalva de que as empresas não deveriam ter sido penalizadas como aconteceu em outros países, etc, como a Alstom, na França, ou a Siemens, na Alemanha.

O resultado disso tudo nós já sabemos qual foi: Lula ficou 580 dias preso e depois teve os processos anulados por erros processuais. Não foi declarado inocente, embora tenha ficado habilitado a disputar o pleito este ano – o que não podem em 2018 – e tudo indica que vai ganhar um terceiro mandato, mesmo tendo o ex-juiz Sergio Moro ao lado do bolsonarismo, conforme espelhado no final do debate deste domingo.

No final, nenhum dos dois beijou a lona ou foi a nocaute. Houve um empate técnico na contenda. O que faltou mesmo foram propostas para a economia. Nenhum dos dois disse de onde vai tirar os R$ 50 bilhões para pagar a continuidade do Auxílio Brasil. Lula foi melhor nas questões sociais, ambientais, educação, política externa, etc. Bolsonaro só ganhou mesmo no quesito corrupção.

Mas, como de resto, o debate reproduziu o que vem acontecendo nas últimas semanas: os dois estão parelhos e quem vencer será por obra e graça do quadro que perdura desde o início da disputa, que sempre foi mesmo entre os dois, sem chances para um terceiro nome. Hoje, as pesquisas mostram que Lula está na frente, como resultado dos 6 milhões de votos a mais que fez ainda no primeiro turno. E os institutos de pesquisa não erram. Só retratam o momento. E o momento diz que dificilmente o petista perde. Mas ainda vai depender das abstenções, que precisam ser menores, e das pessoas dispostas a votar em branco ou anularem o voto. A democracia agradece, pois deverá de nos livrar de mais um golpe de estado e da volta à ditadura.