Ser candidato e não estar na liderança é enfrentar sempre a mesma pergunta: “Irá apoiar quem no segundo turno?”. Com a concentração de intenções de votos no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e no presidente Jair Bolsonaro (PL), os demais concorrentes se tornaram quase invisíveis e têm sua importância diminuída até por colegas de legenda.

Virou consenso no mundo político que na prática só há duas pessoas concorrendo nesta eleição. Sem chegar sequer a 10% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro passa de 30% e Lula passa de 40%, esses outros candidatos sofrem com traições dos próprios partidos aliados, dificuldades em ter palanques nos Estados e com pressão para que antecipem publicamente o voto do segundo turno.

De acordo com a pesquisa Ipec (ex-Ibope) divulgada na segunda-feira, 15, Lula tem 44% das intenções de voto e Bolsonaro tem 32%. Muito distantes aparecem Ciro Gomes (PDT), com 6%, Simone Tebet (MDB), com 2%, e Vera Lúcia (PSTU), com 1%. Os outros candidatos não pontuaram.

Na eleição passada, dia 20 de agosto de 2018, também início de campanha, o Ibope já indicava o favoritismo de Bolsonaro, que pontuou 20% das intenções de voto. Porém, diferente do que acontece neste ano, a concentração das intenções de votos não era tão grande. Marina Silva (Rede) aparecia com 12% no levantamento, Ciro com 9%, Geraldo Alckmin (7%) e Fernando Haddad (4%). Na época, o PT ainda insistia em apresentar Lula como candidato mesmo com o ex-presidente na prisão. Haddad virou oficialmente presidenciável apenas em setembro.

“Você tem logo de cara duas grandes potências políticas se enfrentando. Uma é o Bolsonaro, que é o presidente da República, ocupa muito espaço na mídia. Do outro lado, um líder popular da importância do Lula, que já tem um legado a defender, tem uma imagem muito consolidada, especialmente no povo mais pobre”, afirmou o ex-senador e ex-chefe do Itamaraty Aloysio Nunes (PSDB). “Não sobra muito espaço para, em uma campanha curta como essa, um outro nome se afirmar”, completou o tucano, que apoia a volta de Lula ao Palácio do Planalto. A posição contraria a decisão formal do PSDB, sigla que faz parte da coligação de Simone Tebet (MDB) e indicou a senadora Mara Gabrilli (SP) como candidata a vice da emedebista.

Aloysio admite que o lulismo e o apoio ao MDB são minoria no partido e que o que prevalece é o bolsonarismo e a ausência de posição. “O PSDB tem bolsonaristas, tem gente que não quer ficar com ninguém porque quer jogar dos dois lados, tem algumas pessoas de esquerda, poucas hoje, minoria. Não é mais nada o PSDB, perdeu uma linha”.

Sem conseguir impulso nas intenções de voto, Simone Tebet chegou a reclamar na entrevista ao Roda Viva na semana passada que as perguntas focaram pouco em suas propostas de governo e mais nas dificuldades de sua campanha. Foram vários questionamentos sobre quem Tebet apoiaria em um segundo turno entre Lula e Bolsonaro e também sobre a decisão de integrantes do MDB e do PSDB de aderirem aos dois candidatos favoritos já no primeiro turno.

Ciro Gomes (PDT) também não esconde a insatisfação em ser cobrado para apoiar outro candidato e já disse nas redes sociais que é “absurdo insistir nessa história de voto útil”. Em outra declaração, o pedetista reconheceu as dificuldades da candidatura. “Sou o primeiro a reconhecer que é uma luta muito, mas muito difícil, mas como costumo dizer: eu não estou nessa luta porque é fácil, mas porque é necessária”. Em seu primeiro ato de campanha de rua, na periferia de São Paulo, Ciro teve um público tímido e pessoas até chegaram a perguntar se ele era candidato a vereador.

Até no seu berço político, o Ceará, Ciro perde nas pesquisas de intenção de voto para Lula e Bolsonaro. Em outro sinal de esvaziamento, o senador Cid Gomes (PDT-CE), irmão do presidenciável, tem participado com menos entusiasmo da campanha na comparação com 2018, quando era coordenador da candidatura presidencial. Neste ano, Cid nem ao menos esteve na convenção que confirmou Ciro como candidato. O senador também ainda não deu nenhuma declaração de apoio a Roberto Cláudio (PDT), candidato de Ciro a governador do Ceará.

No Rio Grande do Sul, onde Ciro não tem um palanque forte e fracassou na tentativa de se unir localmente ao PSB e ao MDB, a deputada Juliana Brizola (PDT) reclamou de outros Estados, onde o PDT tem uma aliança informal com Lula. “A gente precisa que todo mundo esteja com Ciro e não abra para outro candidato. Eu sou bem chata nesse sentido”.

No entanto, ela também disse que entende as diferentes realidades regionais.”Claro que a gente entende algumas conjunturas locais, eu não tenho como fazer críticas a outros Estados porque afinal de contas estou aqui no Rio Grande do Sul”. Como maneira de conter as traições, o comando nacional do PDT decidiu proibir que os candidatos do partido usem outros presidenciáveis em suas propagandas. Isso, no entanto, não tem impedido parcerias informais dos candidatos pedetistas ao governo do Rio, Rodrigo Neves, e do Maranhão, Weverton Rocha, com o PT.

Situação parecida acontece com o MDB, onde quase todo o Nordeste está com Lula, além dos diretórios do Rio e do Amazonas. Em Pernambuco, o MDB apoia Danilo Cabral (PSB), candidato de Lula a governador, o que deixa Tebet sem palanque no Estado. Apesar disso, o deputado Raul Henry, presidente do diretório estadual do MDB, afirmou que a sigla no Estado apoia Simone. “O nosso partido tem uma candidata a presidente da República e estamos apoiando ela publicamente, vamos fazer a campanha dela. E esses que são do MDB e não vão apoiar a candidatura do partido? Aí sim é uma incoerência”.

Tebet não é a primeira presidenciável do MDB a enfrentar as dificuldades. Em todas as vezes que lançou candidato a presidente – Ulysses Guimarães (1989), Orestes Quércia (1994) e Henrique Meirelles (2018) -, o partido nos Estados não deu sustentação de verdade às campanhas. “O DNA do MDB, o nascimento dele, é de uma frente contra a ditadura e permaneceu com característica de frente. Em cada Estado tinha uma liderança com perfil muito diferente da liderança de outro Estado”, explicou Henry.

Candidata de última hora

O União Brasil, que é o maior partido em termos de tempo de propaganda e de recursos financeiros, escolheu de última hora lançar a senadora Soraya Thronicke como candidata à Presidência. O nome da parlamentar foi definido no dia 2 de agosto, faltando duas semanas para o início oficial da campanha.

Resultado da fusão entre PSL e DEM, na prática os líderes nova legenda dão pouca atenção à candidatura presidencial e os diretórios estaduais se dividem entre apoiar Bolsonaro, se afastar da disputa presidencial e até se aliar ao PT, caso do próprio presidente do partido, Luciano Bivar, que busca o apoio de petistas para se reeleger deputado federal em Pernambuco.

Outros candidatos de partidos menores, como Leonardo Péricles (UP), Vera Lúcia (PSTU), Sofia Manzano (PCB) e Eymael (DC) sofrem ainda mais por não ter espaço midiático e nem fundo eleitoral à disposição. O empresário Pablo Marçal tentou ser candidato pelo PROS, mas a legenda resolveu apoiar Lula.

“O espaço de tempo foi ocupado, o território político foi ocupado pelo Lula e pelo Bolsonaro”, resume Aloysio Nunes. O tucano também criticou a estratégia de focar nos votos “nem, nem”. “Qual a ideia que a Simone representa? Qual o modelo de sociedade a que ela aspira? Os que votam nela é gente que não quer nem um e nem outro. É muito pouco para constituir uma hegemonia política. O Ciro é a mesma coisa, (mas) tem uma identidade política mais definida.”