28/09/2022 - 5:41
Às vésperas das eleições, o mercado está calmo. Não há sinal de qual candidato o empresariado prefere. Talvez considere ambos competentes para resolver os problemas econômicos do país – ou igualmente incompetentes.Há 20 anos, nesta mesma época do ano, os investidores estavam à beira de um colapso nervoso: os prêmios de risco dos títulos brasileiros disparavam, e a bolsa de valores caía, assim como o real. O motivo do pânico nos mercados financeiros era que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva tinha as melhores chances de vencer as eleições presidenciais de 2002.
Os patrões temiam que o ex-sindicalista governasse o país seguindo a linha de seus discursos como líder trabalhista. Eles temiam que Lula não pagasse a dívida do Brasil. Mas foi diferente. Pouco depois de sua vitória eleitoral, Lula tranquilizou os investidores com seu programa econômico. Todos aqueles que tiveram sangue frio e apostaram no Brasil puderam colher fartos lucros.
Em 2018 ocorreu exatamente o oposto. Quando as chances de Jair Bolsonaro vencer as eleições aumentaram em meados do ano, a bolsa subiu. O Ibovespa saltou incríveis 67% até as eleições. Os investidores reagiram com alegria às baixas chances de Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores, se tornar presidente.
Se eles estavam certos em antecipar a vitória de Bolsonaro, é algo que os empresários veem hoje de forma diferente dependendo do setor. Sempre se diz que o atual presidente tem a maioria da comunidade empresarial ao seu lado. Mas também há representantes proeminentes do campo dos negócios e do setor bancário que se distanciam publicamente de Bolsonaro.
Uma análise dos indicadores econômicos mostra que, para empresários e investidores, raramente importou tão pouco quem governaria o país a partir de 1º de janeiro. A habitual volatilidade pré-eleitoral é quase inexistente desta vez.
O real é uma das moedas mais fortes do mundo neste ano. O Ibovespa é também um dos índices de ações com melhor desempenho em todo o globo. Entre os principais mercados emergentes, os prêmios de risco dos títulos brasileiros caíram desde o início do ano – enquanto subiram em todo o mundo.
Quem agora acredita que tudo isso é graças ao atual governo, esquece que Lula está liderando as pesquisas de intenção de voto e pode até ganhar no primeiro turno. Se investidores e empresários estivessem preocupados com a vitória do petista, eles teriam há muito tempo vendido suas ações, trocado reais por dólares e colocado seus títulos no mercado.
O risco dessas eleições foi precificado, dizem os bancos de investimento: os investidores já levaram em consideração o resultado imprevisível da eleição em suas taxas de juros e avaliações de risco.
E o preço que eles pedem é alto: a Selic está em 13,75%. Um valor muito maior do que no resto do mundo: nos Estados Unidos, a taxa de juros básica está de cerca de 3%; na União Europeia, é inferior a 1%.
Ao descontar o índice de inflação da taxa básica Selic, a taxa de juros real está em torno de 6%. É um veneno para qualquer economia, já que atualmente cerca de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é usado para pagar juros sobre a dívida pública – por ano!
O fator decisivo agora é qual política econômica, fiscal e monetária o próximo presidente irá implementar. Somente então os prêmios de risco e as taxas de juros cairão – ou aumentarão ainda mais.
Ao olhar para os indicadores econômicos, pode-se dizer: no momento, a economia considera que ambos os candidatos, Lula e Bolsonaro, são igualmente competentes para resolver os problemas econômicos do país. Ou, tendo em vista os elevados prêmios de risco, talvez seja melhor dizer: igualmente incompetentes?
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Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.
O texto reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.