Enquanto o português Jorge Jesus brilha no comando do Flamengo, o brasileiro Nelsinho Baptista, de 70 anos, faz história no Japão. O time dirigido por ele, o Kashiwa Reysol, fechou a temporada da J-League 2 – segunda divisão do Japão – de forma contundente. No sábado, cravou um impressionante 13 a 1 em cima do Kyoto Sanga, num recorde no futebol do país, bem como também o queniano Olunga se tornou o maior goleador de um só jogo ao balançar as redes oito vezes.

Em entrevista ao Estado, ele admitiu surpresa com estas marcas. “Na verdade isso parece coisa do passado, dos tempos do Santos de Pelé que ganhava de oito, nove, dez gols. A temporada aqui na segunda divisão foi bastante dura e equilibrada, então um placar alto de três ou quatro gols já seria algo de destaque. Mas 13 gols é um recorde que deve demorar muitos anos para cair”, comentou Baptista, confessando que “nem em sonho imaginaria numa despedida desta forma”.

Como na penúltima rodada o Reysol já tinha garantido a sua volta à elite, um ano após sua queda, e o título da competição, o objetivo era brindar a torcida com uma vitória na 42ª rodada, a última do campeonato, dentro de casa. Por isso, a comissão técnica passou a semana toda cobrando seriedade dos jogadores. Mesmo porque o adversário ocupava a sétima posição e brigava para ficar entre os seis primeiros colocados para disputar uma repescagem que poderia dar uma vaga na elite em 2020.

“Foi uma tarde de muita qualidade e determinação. Fechamos de forma brilhante e, porque não, inesperada, o ano de 2019. Fiquei impressionado e gratificado”, resumiu Nelsinho, destacando ainda os oito gols marcados por Olunga, atacante de 25 anos e que defende a seleção do Quênia, da África. Um recorde também em número de gols marcados por um só jogador no Japão.

Olunga terminou a competição com 27 gols, dois a menos do que Leonardo, ex-atacante do Santos, que fez 29 gols pelo Albirex Niigata, que fechou a temporada em décimo lugar. Os outros gols da partida tiveram a marca brasileira. Cristiano da Silva fez três e Matheus Sávio, ex-Flamengo e CSA, fez um, com o japonês Segawa completando o placar histórico.

“Os nossos jogadores estavam pilhados e deu certo. Foi impressionante. A gente esperava uma vitória e até por dois ou três gols, mas 13 gols é a primeira na minha carreira. No fim, a torcida festejou, a cidade está contente e vamos pensar com calma, desde já, no futuro”, disse Nelsinho, que tem mais dois anos de contrato com o clube.

Com atropelada na partida final, o Kashiwa Reysol fechou sua campanha somando 84 pontos em 42 rodadas, com 25 vitórias, nove empates, oito derrotas, 85 gols marcados e apenas 33 sofridos. O acesso já tinha sido garantido na rodada passada. O vice-campeão Yokohama, com 79 pontos, também garantiu o acesso.

Nelsinho é o técnico estrangeiro que mais tempo trabalhou no Japão. No total foram 15 anos, distribuídos em três décadas. Começou nos anos 90 com o Verdy Kawazaki, pelo qual sagrou-se bicampeão japonês em 1994 e 1995. Depois teve idas e vindas, como numa ponte aérea de um lado a outro do planeta, nas duas décadas do século XXI.

Por coincidência, em 2010, ele também tinha tirado o Reysol da segunda divisão com o título para brilhar na elite japonesa nos anos seguintes. Até 2014 ele colecionou títulos, como de campeão japonês de 2011, mesmo ano em que participou do Mundial de Clubes. Conquistou ainda a Copa do Imperador e a Supercopa Japonesa em 2012. No ano de 2013 levou a Copa da Liga Japonesa e, em 2014, a Copa Suruga ao bater o Lanús, da Argentina.

Após o novo triunfo pelo Kashiwa Reysol, a custo de muitas horas de dedicação e longe da família, Nelsinho Baptista sonha em cumprir seu contrato de mais dois anos. “É um desafio muito maior. Mas já estamos preparando e executando o plano para 2020. Enquanto Deus me der forças eu fico dentro de campo. Cada desafio me deixa ainda mais motivado. Me sinto bem de saúde e me fortaleço a cada vitória. O futebol, como a vida, sempre nos reserva algo no dia seguinte. Quem não gosta de vencer, ainda mais por 13 gols?”, finalizou.