O músico Neil Young declarou guerra ao serviço de streaming de áudio Spotify. Young não quer dividir o espaço da plataforma com negacionistas e supremacistas. Seu alvo é precisamente o comentarista de UFC Joe Rogan, que tem um podcast de enorme sucesso nos Estados Unidos pelo qual propaga fake news e teses conspiratórias. Rogan recebe US$ 100 milhões pela exclusividade na veiculação de seu programa de entrevistas, o mais ouvido no Spotify no ano passado. Além de usar palavras racistas e transfóbicas, ele foi denunciado recentemente por profissionais de saúde depois de uma entrevista com o infectologista americano Robert Malone em que comparava os Estados Unidos de hoje com a Alemanha nazista e dizia que a sociedade está sendo “hipnotizada” para acreditar nas vacinas. Quem seguiu Neil Young na sua jornada contra o negacionismo foi outra roqueira consagrada, Joni Mitchell, que tampouco aceita a convivência com radicais como Rogan.

Por conta do protesto de Neil Young, o Spotify perdeu US$ 2,1 bilhões em valor de mercado entre os dias 26 e 28 de janeiro, segundo a revista Variety. A queda nas ações está diretamente relacionada à percepção de que o serviço promove a desinformação e negligencia a pandemia. O músico foi transparente e direto na sua crítica. Em carta à sua gravadora, disse que “eles (o Spotify) podem ter Rogan ou Young, não os dois”. Cobra-se do serviço um compromisso com a verdade e uma capacidade de selecionar seus conteúdos a partir de critérios éticos. Diante do tombo na bolsa, o Spotify anunciou medidas para conter as fake news sobre a Covid-19 como a inclusão de links em todos os podcasts que tratarem da doença, incluindo fontes confiáveis e informações cientificamente verificadas. Apesar disso, a plataforma mantém seu contrato com Rogan, que também veicula seus shows de stand-up comedy na Netflix.

É bom perceber que ao contrário do guitarrista Eric Clapton, que se bandeou para o lado do movimento antivacina, existem roqueiros e ídolos populares progressistas que se incomodam com a propagação de mentiras e o avanço dos ataques à ciência nos Estados Unidos e em todo o mundo. A repercussão que Neil Young conseguiu para sua justa demanda estabelece limites para o discurso negacionista e deixa todas as plataformas que distribuem conteúdo, seja lá em qual formato, de sobreaviso. Diante da polêmica, Rogan tentou contemporizar e afirmou que irá continuar recebendo convidados com pontos de vista controversos, mas que pretende balancear as perspectivas. Já Neil Youg e Joni Mitchell pularam fora do Spotify.