O jornalista angolano Camuaso Segundo, 38, é um entusiasta da vida. Negro, cego desde a infância e natural de Luanda, capital da Angola, ele jamais deixou de sorrir e encarar a vida com determinação, autoestima e esperança. Residente no Brasil há 15 anos e formado em Jornalismo na Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina) em 2010, ele agora busca retomar uma de suas paixões, as palestras motivacionais, que ele promovia em instituições e associações antes da pandemia e tiveram de ser interrompidas por conta do isolamento social.

“Eu comecei a enveredar pelas palestras porque percebi que a minha história e o meu legado, como uma pessoa cega, negra e que saiu do país de origem para viver no Brasil, inspiram pessoas, servem como incentivo, como ajuda emocional e motivacional. Percebo que pelas minhas palestras as pessoas são agraciadas e contempladas. A motivação é um combustível para a vida. Pessoas motivadas são mais felizes. Alguém que luta para não desistir pode se sentir inspirado e ajudado com nossos atos e ações, assim como eu me inspiro também em outros”, afirma ele, que está recrutando mais seguidores na sua página do Instagram para retomar as palestras em formato online em tempos de pandemia.

O canal do YouTube do angolano também vem sendo uma ferramenta importante. Por meio da TV Camuaso, como é chamada, ele pratica outra de sua paixão, o jornalismo, ofício do qual ele tem muito orgulho. Nela, conduz entrevistas com outros colegas jornalistas, com compatriotas angolanos, com pessoas com deficiência visual como ele ou com “gente com histórias incríveis e que tenham algo bom para contar”.

Mas o trabalho mais inusitado para um cego é o de fotógrafo e Camuaso ama fotografar. Ele conta o segredo. “A fotografia para o cego é imaginação, é som, é cheiro, é utilização dos outros sentidos que vão compensar a falta de visão. Posso também contar com a descrição de outra pessoa”, diz ele, que já teve suas fotos exibidas em exposições em Florianópolis e Palhoça.

“Se eu for tirar um retrato, eu vou pedir para que a pessoa fale. Através do som eu vou enquadrar a câmera. Vou medir a distância entre mim e o objeto através da mão e aí eu posso fazer o enquadramento desta maneira. A intenção é comunicar o sentimento. Foto não é apenas para ser vista, é para ser sentida”, descreve.

Neste Mês da Consciência Negra, Camuaso lembra que a discriminação em função da cor de pele já criaram barreiras e empecilhos ao longo da vida, mas afirma que é bem resolvido e não busca se martirizar, segundo ele. “O que me balança, chama a minha atenção e me motiva a agir é a discriminação”, afirma. “Quando há discriminação, buscamos maneiras de mostrar que nós somos pessoas com intelecto, com capacidade e com destreza. Essa é uma luta que precisa ser travada”, diz o angolano, que hoje vive em São Paulo.