As negociações políticas se intensificaram neste domingo (30) em Israel, a poucos dias do fim do prazo para a formação de um governo de coalizão, o que pode marcar o fim da era Benjamin Netanyahu.
Depois do fim, em 21 de maio, do recente conflito entre Israel e o movimento islamita palestino Hamas, o líder da oposição, Yair Lapid, intensificou as negociações com os partidos para tentar formar um novo governo após as eleições de março.
A missão para formar o governo, que o presidente israelense Reuven Rivlin concedeu a Lapid no início de maio, expira na quarta-feira 2 de junho às 23H59 locais (17H59 de Brasília).
À frente do partido de centro Yesh Atid (“Há um futuro”), Lapid recebeu a tarefa depois do fracasso na tentativa de estabelecer maioria por parte do primeiro-ministro Netanyahu, que enfrenta um julgamento por corrupção, fraude e abuso de confiança.
Após semanas marcadas por 11 dias de confrontos entre o grupo Hamas, no poder em Gaza, e o exército israelense, devido às tensões em Jerusalém Oriental e os confrontos nas cidades “mistas” de Israel, a ideia de um “governo de união nacional retorna ao debate.
“Chegou o momento para um novo governo (…) É uma oportunidade histórica para romper as barreiras que dividem a sociedade israelense, para unir os religiosos e os laicos, a esquerda, a direita e o centro”, declarou Lapid há alguns dias.
Para alcançar o governo de união, Lapid deve conquistar o apoio de 61 dos 120 deputados da Kneset, o Parlamento israelense.
O líder opositor tem o apoio da esquerda, do centro e de dois partidos de direita, que somam o total de 51 deputados. Na reta final, ele precisa convencer o partido de extrema-direita Yamina, de Naftali Bennett (7 cadeiras), e os deputados árabes.
Netanyahu fez um apelo neste domingo no Twitter a Bennett e a Gideon Saar, líder de um pequeno partido de direita, por uma reunião para discutir uma possível coalizão.
“Estamos em um momento crucial para a segurança e o futuro do Estado de Israel”, afirmou o chefe de Governo, que propôs aos dois líderes uma alternância no cargo de primeiro-ministro: primeiro Saar, depois Netanyahu e, finalmente, Bennett.
Um acordo entre Lapid e Bennett provocaria o fim do governo de Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo do país, depois de passar 15 anos no poder e o primeiro a enfrentar acusações penais durante seu mandato.
O jornal gratuito de direita Israel Hayom denunciou uma “tentativa de golpe” para acabar com a era Netanyahu, apoiado por “representantes do Hamas”, em uma referência velada ao partido árabe israelense Raam (islamita) de Mansur Abbas (4 deputados), que poderia apoiar a coalizão de Lapid.
– “Situação desesperadora” –
Após quatro eleições em menos de dois anos sem a formação de maiorias, a oposição está “mais perto do que nunca” de expulsar Netanyahu do poder, opina Gayil Talshir, professora de Ciências Políticas da Universidade Hebraica de Jerusalém. “Netanyahu está em uma situação desesperadora”.
“Naftali Bennett chegou à conclusão de que Netanyahu está no poder há muito tempo e que seus problemas jurídicos o distraem”, afirmou à AFP a analista Dahlia Scheindlin, que calcula em “50%” as probabilidades de sucesso do bloco de mudança.
Se o campo anti-Netanyahu não conseguir formar um governo, 61 deputados poderão pedir ao presidente que designe, para uma última tentativa, um parlamentar de sua escolha, que poderia ser Netanyahu, Lapid, Bennett ou outro nome.
Se esta opção também fracassar, a Kneset seria dissolvida e o país organizaria as quintas eleições em pouco mais de dois anos.