As negociações indiretas para uma trégua entre Israel e Hamas em Gaza tiveram uma “retomada promissora” nesta quinta-feira (15), asseguraram os Estados Unidos, que atuam como mediadores ao lado de Egito e Catar para pôr fim a um conflito que já dura mais de 10 meses.

As conversas foram retomadas em Doha, capital do Catar, após forte pressão dos países mediadores para encerrar um conflito com potencial crescente de incendiar todo o Oriente Médio.

“Hoje tivemos uma retomada promissora”, declarou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, acrescentando que as negociações prosseguirão na sexta-feira.

“Os obstáculos que ainda persistem podem ser superados, para poder concluir esse processo”, destacou.

As negociações se baseiam em um plano de três fases anunciado em 31 de maio pelo presidente americano Joe Biden.

A primeira fase prevê uma trégua de seis semanas e uma retirada israelense das áreas densamente povoadas de Gaza, bem como a troca de reféns feitos capturado Hamas por presos palestinos detidos em Israel.

Desde o início do conflito, em 7 de outubro de 2023, desencadeado por um incursão brutal de milicianos islamistas do Hamas no sul de Israel, os dois lados pactuaram uma trégua apenas, no final de novembro, durante a qual trocaram dezenas de reféns sequestrados em Israel por centenas de presos palestinos.

As negociações são celebradas na presença do diretor da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, na sigla em inglês), William Burns.

Também participam delas os chefes do Mossad – o serviço de inteligência israelense – e do Shin Bet – a agência de segurança interna – , segundo o gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Osama Hamdan, um responsável do Hamas, declarou que o movimento não participou da reunião desta quinta, mas que estava disposto a se juntar às negociações se estas resultarem em novos compromissos por parte de Israel.

“Se os mediadores conseguirem obrigar a ocupação [israelense] a chegar a um acordo, faremos isso, mas até agora não há nada novo”, disse ele à AFP.

O Hamas, que governa Gaza desde 2007, não participará de negociações prolongadas que “deem mais tempo a Netanyahu para matar o povo palestino”, acrescentou.

Hossam Badran, outro alto integrante do grupo, afirmou que qualquer acordo deve incluir uma retirada “completa” das tropas israelenses de Gaza.

O movimento islamista, qualificado de organização “terrorista” por Estados Unidos, Israel e União Europeia (UE), insiste em que quer a “aplicação do plano de Biden, e não negociar por negociar”.

– Mais de 40.000 mortos em Gaza –

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, e seu par francês, Stéphane Sejourné, discutirão nesta sexta as conversas sobre a trégua com titular da diplomacia israelense, Israel Katz.

“É necessário que os reféns sejam libertados, que haja um alívio para os palestinos em Gaza, segurança para Israel e menos tensões na região. Pedimos que isso aconteça o mais rápido possível”, insistiu John Kirby.

No ataque de 7 de outubro, os comandos islamistas mataram 1.198 pessoas no sul de Israel, a maioria civis, segundo um levantamento feito com base em dados oficiais israelenses.

Eles também sequestraram 251 pessoas. O Exército israelense afirma que 111 seguem em Gaza, mas que 39 deles teriam morrido.

Israel lançou uma campanha militar em Gaza que já deixou 40.005 mortos, segundo o Ministério da Saúde desse território governado pelo Hamas.

Esse balanço é um “marco sombrio para o mundo inteiro”, avaliou o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Volker Türk, nesta quinta-feira.

Os temores de uma conflagração regional aumentaram após o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em 31 de julho em Teerã, uma ação que o Irã atribui a Israel, e do chefe militar do Hezbollah libanês pró-Irã, Fuad Shukr, um dia antes em um bombardeio israelense perto de Beirute.

– Milicianos ‘eliminados’ –

Biden avaliou que um cessar-fogo em Gaza pode evitar um ataque iraniano em Israel em resposta ao assassinato de Haniyeh.

Um cessar-fogo também pode pôr fim ao fogo trocado entre o Exército israelense e o grupo libanês Hezbollah, aliado do Hamas e do Irã.

O Exército israelense afirmou hoje que havia “eliminado mais de 17 mil terroristas” em dez meses de guerra.

Um bombardeio israelense em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, deixou um morto e três feridos, indicou uma fonte médica no hospital Nasser dessa localidade.

Tanques israelenses também entraram no sul da Cidade de Gaza, onde ressoavam disparos de artilharia e bombardeios, constatou um correspondente da AFP.

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