Os países mediadores prosseguem nesta segunda-feira (4) com as negociações no Egito para alcançar uma trégua em Gaza entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, depois que “avanços significativos” foram registrados no domingo e após um pedido de cessar-fogo dos Estados Unidos.

Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, mais de 124 pessoas, a maioria civis, morreram nos bombardeios israelenses das últimas 24 horas contra vários setores de Gaza.

A guerra começou após o ataque sem precedentes de milicianos do Hamas contra Israel em 7 de outubro, quando 1.160 pessoas foram assassinadas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades israelenses.

Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que deixou pelo menos 30.534 mortos em Gaza, em sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território palestino.

Israel anunciou nesta segunda-feira que chamou para consultas seu embaixador na ONU, denunciando que a organização tentou “silenciar” os relatos de atos de violência sexual cometidos pelo Hamas durante o ataque em 7 de outubro.

Enquanto isso, representantes do Egito, Hamas, Catar e Estados Unidos negociam no Cairo para tentar alcançar uma trégua. Um canal de televisão próximo ao governo egípcio mencionou “avanços significativos” nas conversações.

“O Egito continua com seus intensos esforços para alcançar uma trégua antes do Ramadã”, que começará em 10 ou 11 de março, informou a emissora AlQahera News, que citou com fonte “um funcionário de alto escalão” do governo.

Os mediadores negociam há várias semanas para tentar obter um cessar-fogo e a libertação dos reféns mantidos em Gaza em troca da liberação de detentos palestinos.

Quase 250 pessoas foram sequestradas pelo Hamas no ataque de 7 de outubro. Uma trégua no final de novembro permitiu a libertação de 105 reféns em troca de 240 presos palestinos.

– ‘Cessar-fogo imediato’ –

Para aceitar um acordo, o Hamas exige o retorno ao norte de Gaza dos deslocados, o aumento da ajuda humanitária, um cessar-fogo definitivo e a retirada dos militares israelenses.

Israel, que não participa das negociações do Cairo, rejeita as condições e afirma que prosseguirá com as operações militares até “aniquilar” o Hamas. Também exige que o movimento islamista entregue uma lista dos reféns que permanecem em cativeiro em Gaza.

No entanto, Basem Naim, um funcionário do alto escalão do Hamas, afirmou nesta sexta-feira no Cairo que o movimento islamista não sabe “quem está vivo e que está morto por causa dos bombardeios ou a fome”.

A ONU alertou que a fome é “quase inevitável” para 2,2 milhões dos 2,4 milhões de habitantes do pequeno território, submetido a um bloqueio terrestre, aéreo e marítimo israelense desde que o Hamas tomou o poder em 2007.

Bairros inteiros foram destruídos e 1,7 milhão de pessoas deslocadas na guerra. Muitas vivem aglomeradas em Rafah, sul de Gaza, perto da fronteira com o Egito, que está fechada.

“Dada a imensa escala de sofrimento em Gaza, deve haver um cessar-fogo imediato durante pelo menos as próximas seis semanas, que é o que está atualmente sobre a mesa”, pediu a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, no domingo.

O ministro israelense de Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, rejeitou nesta segunda-feira o pedido, ao responder que “chegou a hora de destruir o Hamas, Kamala”.

Harris, o secretário de Estado, Antony Blinken, e o conselheiro de segurança nacional, Jake Sullivan, devem se reunir com o político israelense Benny Gantz em Washington nesta segunda-feira.

Gantz é membro do gabinete de guerra israelense de Benjamin Netanyahu, mas também rival político centrista do primeiro-ministro de extrema direita, a quem criticou duramente antes da guerra.

– ‘Conflito muito mais amplo’ –

Nas últimas horas, bombardeios israelenses atingiram Rafah e Khan Yunis, no sul, Jabaliya e Nusseirat, no centro, e a Cidade de Gaza, ao norte, segundo o governo do Hamas e testemunhas.

O Exército israelense afirmou que suas tropas tentam cercar a parte oeste de Khan Yunis, onde “terroristas foragidos estão escondidos”. Também denunciou que, “segundo os serviços de inteligência, mais de 450 terroristas pertencentes a organizações terroristas da Faixa de Gaza, principalmente o Hamas, também estão empregados pela UNRWA”, a Agência da ONU para os refugiados palestinos.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, alertou em Genebra que a guerra em Gaza pode levar a um “conflito muito mais amplo”, em referência aos disparos na fronteira entre Israel e o Líbano e aos ataques dos rebeldes huthis do Iêmen no Mar Vermelho.

No norte de Israel, um míssil disparado do Líbano, segundo o Exército israelense, matou um trabalhador estrangeiro, disseram os socorristas.

O Exército alegou ter realizado ataques a dois “estabelecimentos militares” do movimento pró-Irã Hezbollah no sul do Líbano.

“Os Estados Unidos estão convencidos de que uma solução diplomática é a única forma de acabar com as hostilidades” entre Israel e o Hezbollah, disse Amos Hochstein, um enviado dos Estados Unidos que viajou a Beirute para tentar reduzir as tensões.

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