ROMA, 2 FEV (ANSA) – Encarregado de conversar com os partidos de base e buscar consenso para a formação de um governo, o presidente da Câmara dos Deputados, Roberto Fico, informou nesta terça-feira (02) que “não há maioria” entre as siglas.   

“No estado atual, permanecem as distâncias para as quais não registrei uma disponibilidade unânime para dar vida a uma maioria”, disse Fico ao fim da reunião com o presidente do país, Sergio Mattarella.   

Fico foi encarregado pelo mandatário na última sexta-feira (29) para iniciar as conversas com os partidos que formavam a base do segundo mandato de Giuseppe Conte – Movimento Cinco Estrelas (M5S), Partido Democrático (PD), Itália Viva (IV) e siglas menores de esquerda. No entanto, após dias de reuniões, não foi possível formar uma maioria estável.   

As desavenças entre o ex-premiê e líder do IV, Matteo Renzi, e as duas maiores siglas da coalizão, M5S e PD, não foram superadas. “Agradeço novamente o presidente Mattarella pela confiança. Foi uma honra poder dar minha contribuição em um momento tão delicado da vida do nosso país”, acrescentou ainda Fico.   

Agora, a decisão sobre uma nova tentativa de formação de governo ou a convocação de novas eleições, mesmo estando na pandemia de Covid-19, está nas mãos de Mattarella.   

Negociações no último dia – O último dia de conversas do prazo dado por Mattarella foi marcado por muita tensão e ataques dos partidos aliados – M5S e PD – contra o IV e contra Renzi. Para as siglas envolvidas, o ex-premiê queria apenas saber de colocar seus aliados em cargos e não se comprometeu a apoiar o Giuseppe Conte no cargo de primeiro-ministro.   

“Nenhuma vontade ajudar o país no momento mais difícil, nenhum interesse para com os cidadãos italianos ou de trabalhar pelo interesse da coletividade. Por parte de Matteo Renzi, na mesa estavam apenas questões das poltronas. Fazendo isso, demonstrou claramente que essa era a verdadeira razão pela qual ele provocou a crise. Poltronas que pediu, contrariamente a tudo que disse nesses dias. Além de pedi-las, o senador de Rignano queria ainda decidir as vagas das outras forças políticas”, disse o M5S em nota oficial.   

O partido ainda destacou que, ao contrário do que dizem os “renzianos”, não vetou nenhuma proposta debatida. “Nessas últimas horas e nos dias anteriores nos concentramos sobre os temas e as necessidades dos italianos, mas nos deparamos com um líder político que queria apenas negociar e buscar pretextos para o rompimento”, informa ainda o documento.   

O líder político do M5S, Vito Crimi, adotou a mesma linha de ataque contra Renzi dizendo que “o objetivo agora é evidente, era ter uma ou outra poltrona a mais”. “Não recebemos do IV nenhum tipo de garantia sobre Conte e assistimos também ele definir ministros dos outros. Quem começou a colocar vetos foi Renzi, que colocou à frente dos interesses do país o seu desejo de ter uns cargos a mais”, pontuou.   

Já o PD não se manifestou oficialmente antes da reunião entre Fico e Mattarella, mas fontes ouvidas pela ANSA informaram que “Renzi fez exigências sobre atos do governo mesmo antes de Conte ser empossado [em 2018] e agora fez um rompimento inexplicável”.   

Segundo a fonte, o ex-premiê também queria escolher os nomes para os ministérios do novo governo do PD.   

Por sua vez, Renzi voltou a sustentar seu discurso desde o rompimento de semanas atrás e disse que tinha um “confronto elevadíssimo” em diversos assuntos, desde a ativação do Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM), um instrumento da União Europeia para nações em dificuldades mediante empréstimos com juros subsidiados, até a reforma do judiciário.   

O líder do IV ainda afirmou que o M5S não queria mexer em nenhum dos escolhidos do partido para os cargos no governo, como o ministro da Justiça, Alfonso Bonafede, da Educação, Lucia Azzolina, e do Trabalho, Nunzia Catalfo.   

Renzi ainda agradeceu Fico pela “postura institucional” nas conversas e disse confiar na “sabedoria” de Mattarella para definir a situação. Crise política – A crise política na Itália começou “oficialmente” no dia 13 de janeiro, quando Renzi anunciou que estava retirando suas duas ministras do segundo governo Conte por não concordar com diversos pontos do plano de recuperação pós-pandemia de Covid-19.   

Nos dias 18, na Câmara dos Deputados, e 19, no Senado, o então premiê Conte conseguiu conquistar o voto de confiança para permanecer na função. No entanto, na segunda Casa, a vitória só foi possível porque o IV se absteve e a maioria para vencer ficou abaixo da maioria simples – são 320 senadores aptos a votação, mas com a abstenção de 16 parlamentares, Conte obteve 156 votos.   

Com o risco do governo ser derrubado em alguma votação, Conte se antecipou e apresentou sua renúncia ao cargo no dia 26 de janeiro, com a intenção de conseguir evitar que o país tivesse uma nova eleição com a formação de um novo governo com a mesma base aliada.   

No entanto, nos últimos dias, Fico não conseguiu formar uma maioria estável por conta das questões envolvendo Renzi. (ANSA).