Negociações de trégua em Gaza seguem estagnadas enquanto preocupações com a fome aumentam

Desde 6 de julho, Israel e Hamas negociam indiretamente no Catar para tentar chegar a um acordo sobre uma trégua em Gaza.

Mas a distância entre suas posições e a comunicação deficiente com o comando militar dos islamistas complicam a tarefa, enquanto os temores de uma fome generalizada aumentam.

Os Estados Unidos continuam a pressionar e anunciaram que seu enviado especial, Steve Witkoff, viajará à Europa esta semana para discutir o estabelecimento de uma trégua e a abertura de um corredor de ajuda humanitária. O enviado poderá então viajar para o Oriente Médio.

Nos mais de 21 meses de conflito, ambos os lados mantiveram posições distantes, e apenas duas tréguas foram possíveis: uma de uma semana no final de novembro de 2023 e outra de seis semanas no início deste ano.

– O que cada parte quer? –

Após mais de duas semanas de esforços, mediados pelo Catar, que sedia as negociações, Egito e Estados Unidos estão em um impasse.

A proposta apresentada consiste em uma trégua de 60 dias e a devolução de dez reféns vivos em troca da libertação de centenas de palestinos atualmente presos em Israel.

O Hamas insiste que qualquer acordo alcançado deve incluir garantias quanto ao fim da guerra, de forma duradoura.

Israel resiste em oferecer tais garantias agora e acredita que o Hamas deve ser destituído de suas capacidades governamentais e militares antes de discutir a paz.

“A realidade é que, por razões de política interna, nem [o primeiro-ministro israelense] Benjamin Netanyahu nem os líderes do Hamas em Gaza estão interessados em um resultado rápido e uma trégua abrangente”, observa Karim Bitar, professor de estudos do Oriente Médio na francesa Sciences Po.

“Ambos teriam que responder a perguntas sérias diante de seus respectivos públicos”, acrescenta.

– As negociações afetam a guerra? –

O governo israelense afirma estar aberto a um acordo, mas, em terra, as tropas expandiram suas operações nos últimos dias na Faixa de Gaza, em áreas como Deir el-Balah, que haviam sido poupadas dos combates.

A imprensa israelense noticiou que os negociadores do Hamas em Doha não conseguiram se comunicar diretamente com os comandantes militares em Gaza para aprovar os planos de retirada do Exército de Israel.

“Há aspectos técnicos difíceis de resolver, devido à crescente desconexão entre os líderes do Hamas em Gaza e os negociadores enviados a Doha”, observa Karim Bitar.

Andreas Krieg, analista especializado em Oriente Médio do King’s College, em Londres, afirma que “as negociações estão progredindo tecnicamente, mas na prática se aproximam de um impasse”.

“O que está em pauta agora é outro acordo de troca de prisioneiros, não um cessar-fogo real”, acredita.

O Hamas vive um dilema. E, embora esteja sob pressão para obter concessões de Israel, “também enfrenta uma situação humanitária cada vez mais desesperadora”.

“Os líderes devem debater até onde podem ir para chegar a um acordo, sem dar a impressão de rendição política”, explica Krieg.

– A fome tornará mais fácil chegar a um acordo? –

Mais de 100 organizações humanitárias alertaram nesta quarta-feira para uma “fome em massa” que se espalha pela Faixa de Gaza.

Na terça-feira, o diretor de um dos principais hospitais afirmou que 21 crianças morreram de fome e desnutrição em três dias.

“A pressão humanitária está aumentando”, observa Andreas Krieg. O Hamas está sujeito ao “crescente desespero da população, que pode forçá-lo a aceitar um pacto temporário que alivie o sofrimento”.

Mesmo que o Hamas concorde em ceder em alguns pontos, Israel permanecerá em posição de força, e não haverá trégua duradoura até que o governo Netanyahu a deseje.

“A menos que os Estados Unidos e o Catar (…) aumentem significativamente a pressão sobre Israel, temo que esta rodada de negociações fracasse como as anteriores”, acredita Karim Bitar.

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