ROMA, 11 JUN (ANSA) – “Imagine uma ambulância que faz um resgate e depois, em um cruzamento, lhe pedem para parar porque não se sabe aonde levar os pacientes. Nos sentimos assim”. Alessandro Porro, em sua terceira missão com a ONG SOS Méditerranée, responde no telefone com a voz calma, ainda que a situação a bordo do navio Aquarius esteja longe de uma resolução.   

A embarcação continua a oscilar de leste a oeste, a dois nós por hora, em um limbo entre Itália e Malta. Roma ainda não deu à tripulação uma comunicação oficial sobre aonde ir, e Valência, na Espanha, a quatro dias de distância, não parece a solução ideal para as 629 pessoas que estão há dias no navio, exaustas e com medo.   

Em seu perfil no Twitter, a SOS Méditerranée afirmou que a proposta da Espanha é “positiva”, mas a viagem levaria “vários dias”. “Com 629 pessoas a bordo e uma condição meteorológica que se deteriora, a situação arrisca se tornar crítica”, disse.   

O dia no Aquarius terminou com um sentimento oposto àquele da manhã, quando as mulheres a bordo cantavam em agradecimento pela solução oferecida por Madri. “Vi onde estão as mulheres”, escreve a jornalista Anelise Borges, da emissora “Euronews”, no Twitter, “faz um calor insuportável, mas elas pelo menos estão na sombra”.   

Outros dormiram durante boa parte do dia, estendidos sobre velhos coletes salva-vidas que foram espalhados pelos voluntários para criar uma espécie de colchão sobre o metal abrasador. Homens, mulheres e crianças que já sofreram violências recorrentes na Líbia.   

“Eles tiveram pouco ou nenhum acesso a tratamentos médicos durante sua detenção”, diz David Beversluis, voluntário de Médicos Sem Fronteiras, lembrando que muitas pessoas apresentam queimaduras provocadas pelo combustível derramado na água pelos barcos clandestinos em que estavam.   

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Até o momento, no entanto, ninguém precisa de tratamento imediato, mas as ONGs cobram uma solução rápida. “A situação é estável, mas os atrasos inúteis estão colocando em risco pessoas vulneráveis”. Dos 629 indivíduos a bordo, 87 são mulheres (incluindo sete grávidas); 123, menores desacompanhados; e 11, crianças acompanhadas.   

Em determinado momento, a tensão se elevou, com os migrantes pedindo explicações sobre qual seria seu destino final. Um deles, um homem, tentou se atirar no mar, com medo de que fosse levado de volta à Líbia. Malta, que recusou receber o navio, assim como a Itália, enviou uma embarcação com comida e água.   

Roma mandou suprimentos e médicos.   

As operações de socorro no Mediterrâneo são controladas pelo Centro de Coordenação de Resgate Marítimo (MRCC) da Guarda Costeira italiana, em Roma. A decisão do “porto seguro” para o navio atracar, que deve ser o mais perto possível, cabe ao Ministério do Interior da Itália. (ANSA)


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias