O primeiro navio de ajuda humanitária chegou nesta sexta-feira (15) na costa da Faixa de Gaza e começou a descarregar 200 toneladas de alimentos, aguardados por centenas de milhares de civis ameaçados pela fome depois de mais de cinco meses de guerra entre Israel e Hamas.

Um navio da ONG espanhola ‘Open Arms’ zarpou na terça-feira do porto cipriota de Larnaca rebocando uma embarcação de outra ONG, a World Central Kitchen (WCK), do chef espanhol José Andrés.

Eles chegaram nesta sexta ao território palestino após dias de travessia por um corredor marítimo aberto por iniciativa da União Europeia com apoio de outros países.

Uma porta-voz da WCK, Linda Roth, informou à AFP que a embarcação “está ligada ao cais temporário” construído a sudoeste da Cidade de Gaza e começou a descarregar os suprimentos.

A ONU alerta para o risco de fome em Gaza, em particular no norte, de difícil acesso e onde vivem quase 300.000 pessoas atualmente.

– Troca de presos por reféns –

Também nesta sexta-feira continuavam as negociações de um cessar das hostilidades.

O Hamas, que até agora exigia um cessar-fogo definitivo com Israel, propôs uma trégua de seis semanas e uma troca de 20 a 50 prisioneiros palestinos por cada um dos 42 reféns israelenses, segundo uma fonte desse movimento islamista que governa Gaza.

É uma cifra consideravelmente inferior à sua proposta anterior, de aproximadamente um refém por 100 presos palestinos, mencionada por uma fonte do Hamas no final de fevereiro.

Mesmo assim, os países mediadores seguem trabalhando “arduamente para preencher a lacuna” que persiste e alcançar um acordo, afirmou o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, de Viena.

– Disparos durante distribuição de farinha –

O Hamas acusou o Exército israelense de atirar a partir de “tanques e helicópteros” contra pessoas que aguardavam a distribuição de farinha numa pequena praça na Cidade de Gaza.

Os disparos deixaram pelo menos 20 mortos e 155 feridos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

O Exército israelense afirmou que “palestinos armados” abriram fogo contra a multidão.

No hospital de Al Shifa, o maior do norte do território, um colaborador de AFP viu ambulâncias transportando corpos e pessoas feridas.

– Ajuda por mar e ar –

Diante da ameaça da fome, vários países tentam entregar ajuda humanitária por terra, mar e ar ao território, onde os combates prosseguem depois do fracasso de uma tentativa de trégua antes do período do Ramadã.

Israel enviará uma delegação ao Catar para negociar a possível troca de presos palestinos por reféns, anunciou o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, depois que o Hamas propôs a trégua de seis semanas em Gaza.

Em um primeiro cessar-fogo em novembro, dezenas de reféns capturados pelo grupo islamista em Israel e mantidos na Faixa foram libertados em uma troca de palestinos detidos em prisões israelenses.

Se houver uma nova trégua, o Hamas exige também a “retirada do exército de todas as cidades e áreas habitadas”, o “retorno dos deslocados sem restrições” e a entrada de ao menos 500 caminhões de ajuda humanitária por dia, indicou um representante do movimento à AFP.

A ajuda por via terrestre chega principalmente do Egito, pelo posto de fronteira de Rafah, no extremo sul de Gaza, mas é insuficiente diante da grave escassez sofrida pelos 2,4 milhões de moradores do território palestino.

O ‘Open Arms’ zarpou com um carregamento equivalente a 300.000 refeições preparadas pela WCK, cuja presidente, Erin Gore, anunciou que a ONG está preparando um segundo navio com centenas de toneladas de mantimentos.

No norte de Gaza, Mojles al Masry, um deslocado de 27 anos, passou horas olhando para o céu e aguardando, sem sorte, a queda de pacotes de ajuda.

“Não há comida para alimentar nossos filhos. Não conseguimos encontrar leite infantil. Estamos andando em círculos desde o início da manhã, esperando que um avião libere um paraquedas”, disse.

– Primeira grande oração –

O conflito começou em 7 de outubro, com o ataque de milicianos do Hamas em território israelense: 1.160 pessoas foram assassinadas, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado nos dados divulgados pelas autoridades israelenses.

Em resposta, Israel prometeu “aniquilar” o movimento islamista e iniciou uma campanha militar que deixou 31.490 mortos até o momento, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.

Os islamistas sequestraram mais de 250 pessoas e 130 continuam detidas em Gaza, das quais 32 teriam sido mortas, segundo Israel.

Para derrotar completamente o Hamas, Netanyahu quer expandir sua operação terrestre para Rafah, onde se amontoam 1,5 milhão de pessoas.

Mais de 100 km a nordeste, milhares de integrantes das forças de segurança foram mobilizados em Jerusalém para a primeira grande oração na Esplanada das Mesquitas desde o início do Ramadã, em 11 de março, devido ao temor de tumultos.

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